Título: Fundos admitem risco no acordo com Citi
Autor: João Domingos e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Nacional, p. A9

Os presidentes dos três maiores fundos de pensão do País (Previ, Petros e Funcef) admitiram ontem, em depoimento à CPI do Mensalão, que o contrato fechado com o Citibank para a compra de 45% das ações da Brasil Telecom em 2007 é uma operação de risco. "Não é 100% segura, como não é segura nenhuma operação. Mas, se não exercermos a opção de compra, nossas ações viram pó", disse Sérgio Rosa, presidente do Previ, o fundo dos funcionários do Banco do Brasil. Parlamentares da CPI suspeitam que a transação serviria para arrecadar dinheiro ilegalmente para o PT. Para o relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), depois de ouvir o depoimento dos três presidentes dos fundos, "ficou a conclusão inevitável de que as entidades assumiram o compromisso de pagar um preço enorme, enquanto para o Citibank não há risco."

Na operação, que deverá ser fechada entre novembro de 2007 e novembro de 2008, os fundos comprarão os 45% das ações da Brasil Telecom, que pertencem ao Citibank, por R$ 93 cada ação. Rosa disse que hoje as ações valem R$ 23.

"Como o senhor pode dizer que uma ação que hoje vale R$ 23 pode chegar a R$ 93 em 2007?", perguntou o deputado José Rocha (PFL-BA). Rosa respondeu que esse é o cálculo do mercado. Disse, ainda, que a proposta é praticamente igual à do Banco Opportunity, de Daniel Dantas, que, mesmo com 10% da Brasil Telecom, controla a empresa. "O Opportunity ofereceu U$ 374 milhões, valor próximo do que vamos pagar."

BATALHA JURÍDICA

Atualmente, o controle da Brasil Telecom é motivo de batalhas jurídicas em vários países - Brasil, Estados Unidos e Holanda, entre outros.

O assunto, que aparentemente não tem nada a ver com as investigações a respeito do pagamento de mesadas para que deputados votassem a favor de projetos do governo, acabou por dominar os trabalhos da CPI do Mensalão ontem.

Os parlamentares suspeitam que grandes fundos de pensão tenham feito operações que permitiriam repasse de dinheiro para bancos utilizados pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, como forma de compensar o pagamento ao PT e a partidos aliados.

"Essa operação com o Citibank é muito estranha, porque você não faz uma operação para perder. O que havia por trás era obter dinheiro fácil para o PT, que usa os fundos para amealhar dinheiro para o partido", disse a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP).

"Está na cara que essa operação tinha outros objetivos", afirmou o deputado Moroni Torgan (PFL-CE). Mas os dirigentes dos fundos negaram qualquer ligação com Marcos Valério ou que o contrato com o Citibank tenha por objetivo lavar dinheiro. "Nossas operações são comerciais, feitas totalmente dentro da lei", disse Wagner Pinheiro, presidente do Petros, dos funcionários da Petrobrás.

Tanto Sérgio Rosa, do Previ, quanto Guilherme Lacerda, do Funcef, dos servidores da Caixa Econômica Federal, negaram que tenham dinheiro aplicado nos bancos BMG e Rural.

Pinheiro disse que o Petros tem R$ 85,5 milhões aplicados em fundos de investimento nos bancos BMG e Rural. Tem mais R$ 10,4 milhões investidos em CDBs do BMG.