Título: Ex-assessora diz que MST recebeu de caixa 2 em Londrina
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Nacional, p. A11

O Movimento dos Sem-Terra (MST) recebeu R$ 90 mil do caixa 2 da campanha de reeleição do prefeito de Londrina, Nedson Micheleti (PT), segundo denúncia da ex-assessora financeira da campanha Soraya Garcia. Segundo ela, o PT gastou na reeleição de Micheleti R$ 6,5 milhões e declarou apenas R$ 1,3 milhão de despesas e uma receita de R$ 1,1 milhão. A seção londrinense do MST, disse Soraya, recebeu R$ 10 mil mensais de fevereiro a outubro de 2004 para apoiar a candidatura de Micheleti.

Um desses pagamentos, garantiu, foi levado por ela à sede do movimento. Os demais, acrescentou, foram recolhidos no comitê financeiro da campanha, na maioria das vezes por uma representante do MST chamada Lucimar.

No dia 10 de maio de 2004, de acordo com a ex-assessora, o coordenador da campanha de Micheleti e presidente do Diretório Municipal do PT, Jacks Dias, foi à sede do MST para exibição de uma fita de vídeo dirigida a lideranças e militantes do MST para que se engajassem na campanha de Micheleti. Dias, que é secretário municipal de Gestão Pública, não quis se pronunciar.

O advogado do Diretório Municipal do PT, João dos Santos Gomes Filho, afirmou que a denúncia de Soraya é uma "loucura, uma viagem alucinógena dirigida por adversários históricos do PT". A coordenação estadual do MST, com sede em Curitiba, não havia comentado a denúncia até 19h.

O abastecimento do caixa 2 da campanha de Micheleti teve a participação, segundo Soraya, do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, do deputado federal e agora ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, do chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e do deputado estadual e presidente do PT paranaense, André Vargas.

Dirceu esteve em Londrina em duas ocasiões, uma delas em 18 de setembro. Dois dias depois dessa visita, de acordo com Soraya, o cofre da campanha, que estava à míngua, guardava R$ 300 mil. O dinheiro teria sido repassado por Dirceu, garantiu a ex-assessora. Essa informação, disse Soraya, lhe foi dada por Augusto Dias Júnior, coordenador financeiro da campanha. Dias Júnior não foi localizado. Ele se demitiu da prefeitura após as denúncias de Soraya.

Dirceu disse, por meio de sua assessoria, que a acusação é "vazia, mentirosa e deslavada". O ex-ministro queixou-se de viver um "processo kafkiano" já que ele tem sido constantemente instado "a apresentar provas de coisas que não fiz". Bernardo, Carvalho e Vargas negam a denúncia. Na semana passada, o ministro de Planejamento disse que a ex-assessora será processada.

Soraya é filiada ao PT desde 2002. O diretório londrinense do PT afirma que o motivo das denúncias foi o fato de ela não ter sido aproveitada na administração municipal. Soraya diz que estava descontente com o partido "há muito tempo" e se sentiu encorajada a denunciar o caixa 2 por causa da crise nacional envolvendo a legenda.

CONVOCAÇÃO

A convocação de Soraya foi aprovada na semana passada na CPI dos Correios a pedido do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

Segundo o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), a CPI quer verificar se há conexão entre o suposto caixa 2 em Londrina com o esquema de recursos paralelos montado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. As denúncias estão sendo investigadas pela Polícia Federal e Ministério Público.