Título: 'Não culpo Lula nem o governo, estávamos todos lá, todos'
Autor: Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Nacional, p. A14

"Pode ser o governo de merda, mas é o meu governo. Enquanto eu tiver saúde, que está faltando, vocês vão ver o que é gritar." A frase é da economista Maria da Conceição Tavares, que estava calada desde o início do escândalo do mensalão. Em duro discurso, no debate promovido no Rio pela Fundação Perseu Abramo com o presidente interino do PT, Tarso Genro, ela afirmou ser "impossível" que a esquerda petista não tivesse conhecimento do rumo que o partido tomou no governo federal. "Não culpo o Lula nem o governo, nem mesmo o (Antonio) Palocci. Estávamos todos lá, todos, desde que entrei no partido. Não vem agora com ar de quem não tem nada a ver com isso. Então estavam todos dormindo de touca? Se não tem, devia ter. Aquilo é uma executiva, gente que se fez de cego. Não sabem nada de economia, são uns analfabetos." Ela defendeu Tarso e, no discurso, citou todas as correntes de esquerda do partido.

Questionada sobre a questão dos juros, respondeu: "Estão altos demais porque a arbitragem é dos nossos bancos junto com os internacionais. Por azar nosso e por sorte também, temos bancos poderosos nacionais, coisa que não tem na Argentina ou no México, onde são todos estrangeiros. Aqui tem que 'rachunchar', uma parte para eles e outra para os nossos bancos, por isso os juros são altos. Ninguém se dá conta de que o banco central da Alemanha trabalhou tanto para a social-democracia em 24 quanto para Hitler. O Lula se segura porque tem base popular e ponto."

No debate, o ex-presidente da Eletrobrás Luis Pinguelli Rosa disse ter a impressão de que, com o PT no poder, houve um "stalinismo esquisito". "Acho que o José Dirceu não levou dinheiro, mas resolveu organizar a putaria. A gente entrou num lugar cheio de gente com catapora e saímos com catapora."

"Vamos para a refundação ou para a reafundação?", indagou o petista Liszt Vieira. Até as 22 horas o debate não havia terminado e Tarso não comentara as declarações. Em discurso, no início, disse que o PT precisa mudar seu núcleo dirigente por um "que use outros métodos de direção". "É preciso que se pense num segundo governo do PT."