Título: Citações incomodam e família de JK convida Lula a conhecer sua história
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Nacional, p. A16

As insistentes citações do ex-presidente Juscelino Kubitschek que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz em seus discursos nos quatro cantos do País estão incomodando a família do construtor de Brasília. "Gostaria de convidar o presidente Lula para ir ao Memorial JK conhecer um pouco mais a história do ex-presidente, conhecer melhor a sua obra, o seu trabalho e seu governo", sugeriu a neta do ex-presidente, Anna Christina Kubitschek, que "estranha" o fato de Lula, apesar de estar há quase três anos em Brasília, ser o único presidente que ainda não visitou o Memorial JK. A neta de Kubitschek, que preside o memorial JK, é casada com o senador Paulo Octávio (PFL-DF), que subiu ontem à tribuna para criticar a forma como o nome do ex-presidente está sendo usado, sendo acompanhado por outros três colegas: Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM) e José Agripino (PFL-RN). Depois de lembrar que JK foi um dos poucos presidentes que "tinha programa de governo e que dele não abriu mão, inclusive de suas metas", o senador avisou que "em hipótese alguma" as dificuldades enfrentadas por ele podem ser comparadas às vividas hoje pelo presidente Lula.

"Todas as críticas e crises enfrentadas por JK foram ou por causa da implantação da indústria automobilística no Brasil ou pela construção de Brasília. Nada tem a ver com a crise que o presidente Lula vive hoje, que é moral. As crises de JK não foram por problemas éticos", disse o senador Paulo Octávio, ao lembrar que "o ex-presidente soube comandar, impor sua marca, nomear, demitir, o que não sentimos que está acontecendo hoje". E acrescentou: "Portanto, não é adequado que ele faça tal comparação."

Anteontem, o presidente Lula, ao chegar de Uberlândia, inaugurou um busto de Juscelino Kubitschek, no aeroporto de Brasília que leva o nome do fundador da cidade, mas não convidou ninguém da família. "Só vimos pela televisão", comentou o senador Paulo Octávio, ao ressaltar que todos os presidente usam Juscelino como referência, mas sugerindo que Lula está exagerando.

Mesmo reconhecendo que as referências a JK são respeitosas e de consideração, o senador observa que "o momento político contradiz a história, o passado e os ideais políticos semeados por aquele que teve em sua trajetória, projetos obras e conceitos que não correspondem à realidade do Brasil sonhado e, acima de tudo, presidido por Juscelino".

Uma nota em nome da família foi lida no plenário pelo senador Paulo Octávio. Depois de citar a exaltação ao nome de JK pelo presidente Lula, "como exemplo de estadista que soube conduzir os rumos do nosso País com altivez, correção e, acima de tudo paciência", Paulo Octávio avisa que "em hipótese alguma" os momentos de dificuldades de Juscelino, à época de sua administração, podem ser comparados aos da atual conjuntura política do Brasil de hoje. Segundo ele, JK sofreu depois de deixar a presidência porque temiam a sua volta por saberem que ele seria imbatível nas urnas. No seu tempo, lembrou o salário mínimo era um dos maiores de todos os tempos e o nível de desemprego dos menores, "o que não dá para comparar com os dias de hoje".

Os familiares do ex-presidente têm confidenciado que estão até mesmo "magoados" com a forma como Lula tem usado o nome de JK. "Talvez seja pelo fato de o Brasil ter poucas referências na vida pública", comentou Paulo Octávio, ao insistir que JK deixou um legado dos cinco anos de seu governo e que todas as suas promessas de campanhas foram perseguidas e cumpridas, assim como seu programa de governo. "JK perseguiu as suas metas e terminou o governo vencedor. Esta é uma das grandes diferenças", completou o senador.