Título: Conflito remonta à morte do Profeta
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Internacional, p. A17

A tensão entre muçulmanos sunitas e xiitas no Iraque tem se manifestado principalmente numa disputa secular pelo domínio político desde a deposição do ex-presidente Saddam Hussein. Mas o conflito tem profundas raízes religiosas. Sob o regime de Saddam, a seita árabe sunita, minoritária no Iraque, dominou e oprimiu brutalmente a maioria xiita e os curdos rebeldes no norte do país. Agora, a insurgência dominada pelos sunitas luta para recuperar a posição política. A maior parte dos líderes sunitas rejeitou a nova Constituição como um documento que não lhes dá poder político suficiente. A Constituição foi principalmente um projeto de xiitas e curdos.

Os xiitas representam cerca de 60% da população do Iraque, e os sunitas, 20%. No mundo muçulmano e árabe, a grande maioria dos crentes é sunita. Os xiitas iraquianos, cujos líderes se refugiaram em grande parte no vizinho Irã durante o regime de Saddam, têm o apoio de Teerã. Lá, uma teocracia xiita governa o país há 25 anos. Mas a possibilidade da influência iraniana no Iraque é um anátema para o mundo árabe dominado pelos sunitas.

O Islã se dividiu entre as seitas dos ortodoxos sunitas e da minoria xiita após a morte do profeta Maomé, fundador da religião, em 632. Os sunitas aceitaram Abu Bakr, um respeitado contemporâneo do profeta, como líder do que então era um império internacional tanto político quanto espiritual. Um pequeno grupo, o "shi'at Ali" (partido de Ali), seguiu o bem mais jovem Ali, genro de Maomé.

Mais tarde, Ali liderou o império islâmico. Mas as rivalidades entre seus seguidores e os simpatizantes de outros personagens que reivindicaram a liderança nas gerações posteriores a Maomé levaram periodicamente a explosões de violência.

Numa batalha no século 7.º, os sunitas mataram Hussein - filho de Ali e neto de Maomé - e seus 72 companheiros na planície de Kerbala, hoje no Iraque. Os xiitas marcam a morte de Hussein em rituais anuais carregados de emoção.