Título: PIB surpreende e cresce 1,4%
Autor: Fernando Dantas e Jaqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre cresceu 1,4% ante o primeiro trimestre, na série com ajuste sazonal, o que significa um ritmo anualizado de 5,7%, e o melhor desempenho desde o final de 2003. A economia brasileira cresceu no segundo trimestre de 2005 bem acima da americana, cujo resultado anualizado foi ontem revisto de 3,4% para 3,3%. No primeiro semestre, a taxa anualizada de crescimento no Brasil foi de 3,4%. O resultado do PIB trimestral foi divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento do PIB brasileiro veio no topo das expectativas do mercado e foi particularmente comemorado por incluir uma vigorosa recuperação dos investimentos, que cresceram 4,5% (19,3% em termos anualizados) na comparação com o trimestre anterior, depois de dois trimestres de queda nessa base de comparação. "Apesar da crise política, o investimento ainda está vindo", disse Nuno Câmara, economista sênior para a América Latina em Nova York do banco DrKW. Para o economista-chefe do Banco Itaú, Tomás Málaga, a expansão do investimento "vai permitir que o Brasil cresça a uma taxa sustentada mais alta".

Em relação ao mesmo período de 2004, o PIB no segundo trimestre cresceu 3,9%, acima das expectativas mais altas do mercado, que eram de 3,8%. Nos quatro trimestres até o fim de junho, a economia cresceu 4,3%. Há um consenso no mercado de que o resultado do PIB do segundo trimestre vai levar a uma revisão das previsões de crescimento em 2005, que devem sair do nível próximo a 3% para o de 3,5%.

A rápida expansão do crédito e o crescimento da massa salarial também estimularam a economia no segundo trimestre. O IBGE ressaltou o aumento de 36% no crédito às pessoas físicas, de 19% às empresas e de 3,9% na massa salarial.

O crescimento no segundo trimestre foi comandado pela indústria, com 3,04%, um ritmo anualizado de 12,7%. Segundo relatório do Bradesco elaborado após a divulgação do resultado do PIB, o crescimento da indústria chega a ser um enigma, "se consideramos o elevado juro real percebido desde o segundo semestre de 2004". A análise, elaborada por Octavio de Barros, economista-chefe do banco, sugere que a melhora dos fundamentos fiscais, externos e inflacionários talvez tenha se sobreposto às expectativas negativas causadas pelo juro mais alto.

O destaque na indústria foi a atividade extrativa mineral, que inclui petróleo, gás natural e carvão mineral, que cresceu 17,5%, quando se compara o segundo trimestre de 2005 com igual período de 2004. Nilson Teixeira, economista-chefe do CS First Boston, observa que as duas plataformas da Petrobrás que entraram em operação no fim de março deram contribuição significativa para o resultado. Já o subsetor de desempenho mais fraco no segundo trimestre foi o de comunicações, com recuo de 1,7% ante igual período de 2004, prejudicado pela queda de 19% nas ligações interurbanas nacionais.

Apesar do destaque para a indústria, os outros setores da economia também tiveram bom desempenho. Comparado ao trimestre anterior, a agropecuária cresceu 1,1% (4,5% em termos anuais) e os serviços, 1,2% (4,9% anuais).

Do ponto de vista da demanda, como nota em relatório elaborado ontem o economista Ricardo Amorim, do West LB em Nova York, "o crescimento foi generalizado e forte" no segundo trimestre. O consumo das famílias, na comparação com o trimestre anterior, em termos dessazonalizados, cresceu 0,9% (3,6% anuais) e o consumo do governo expandiu-se 1,1% (4,5% anuais).

A gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, disse que o PIB do segundo trimestre mostrou que, enquanto os efeitos diretos do comércio exterior começam a perder fôlego, os efeitos multiplicadores das exportações estão mais visíveis. Rebeca destacou que, até o primeiro semestre de 2004, o PIB estava sendo puxado basicamente pela agropecuária e as exportações. Do segundo semestre de 2004 para cá, a indústria passou a apresentar mais fôlego, assim como o consumo das famílias e os investimentos.

Segundo Rebeca, o peso direto do comércio exterior no desempenho do PIB começa a perder força pelo crescimento das importações, que são contabilizadas com sinal negativo. No segundo trimestre, comparado ao anterior, as exportações cresceram 2,6%, e as importações, 2,4% - respectivamente, 10,8% e 9,95% em termos anualizados. Para a gerente, há uma mudança de característica no crescimento, com menor efeito das exportações (ainda que se mantenha) e forte influência do crédito e do crescimento da massa salarial.

No caso dos investimentos, Rebeca destaca a influência do crédito para infra-estrutura e cita como exemplo dados do BNDES que mostram que, até julho, os desembolsos para a indústria cresceram 39% ante igual período de 2004.