Título: Cai a confiança do consumidor, de novo
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

A crise política e a desaceleração do crescimento econômico derrubaram a confiança do consumidor em agosto, pelo terceiro mês consecutivo, segundo a 21.ª Sondagem das Expectativas do Consumidor, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O levantamento aponta piora na avaliação do consumidor em relação às situações econômicas de suas famílias e do País, de julho para agosto. Além disso, as perspectivas para os próximos meses são as mais pessimistas desde a criação da pesquisa, em outubro de 2002. A FGV entrevistou 1.438 chefes de domicílio entre os dias 1 a 22 de agosto. De julho para agosto, caiu de 11,9% para 9,5% a parcela dos que acham que melhorou o cenário econômico do País nos últimos seis meses. Também caiu de 17,3% para 15,2% o porcentual dos que acham melhor a situação econômica de sua família hoje do que há seis meses.

Para o economista da fundação, Aluisio Campelo, a piora na avaliação do consumidor em relação à família é resultado de "contágio" da avaliação ruim da situação econômica do País. Esse contágio foi causado principalmente pelo agravamento da crise política nos últimos 30 dias. "Há meses, ocorre uma deterioração na avaliação do consumidor em relação à situação econômica do País. Mas isso não era claro em relação à situação econômica da família, até agosto", disse. O técnico comentou que um dos fatores que levaram ao pessimismo do consumidor com a economia do País foi o cenário de desaquecimento, provocado pelos juros altos.

O consumidor também não está nada otimista em relação aos próximos meses. Segundo o levantamento, de julho para agosto caiu de 29,6% para 25,6% a parcela dos entrevistados que apostam em melhora na economia do País nos próximos seis meses. Da mesma forma, caiu de 52,1% para 46,7% o porcentual dos que acreditam em melhora na situação econômica familiar nos próximos seis meses.

JUROS

Uma possível queda de juros poderia recuperar o otimismo do consumidor para os próximos meses, na avaliação de Campelo. O economista admitiu que o humor do consumidor acompanha, de forma muito próxima, a flutuação da taxa básica de juros (Selic). Observou ainda que, se a crise política arrefecesse, isso também seria positivo para a melhora do humor do consumidor. Mas considerou que, atualmente, não há como fazer previsões dos rumos da atual turbulência para o futuro. "Mas serão esses dois ingredientes na balança que pesarão as expectativas do consumidor nos próximos meses."

Mesmo com a piora nas expectativas do consumidor, aumentou a previsão de compras de bens de alto valor agregado, como geladeira e automóvel, nos próximos seis meses. A parcela dos consumidores que apostam em gastos maiores com produtos desse tipo nos próximos meses passou de 12,5% em julho para 12,8% em agosto. Esse cenário é causado por dois motivos: deflações sucessivas e aumento da oferta de crédito. "O consumidor vê a queda nos preços e pensa em aproveitar o momento para comprar. Quanto ao crédito, a oferta tem aumentado muito desde o final do ano passado."