Título: Escândalos encolhem Banco Rural
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Economia & Negócios, p. B6

O aumento de saques, iniciado com o escândalo do Banco Santos e intensificado pela atual crise política, reduziu quase pela metade a carteira de crédito do Banco Rural, derrubou o total de depósitos e diminuiu o tamanho da instituição para nível semelhante ao de 2000. De novembro de 2004 até junho deste ano, o estoque de empréstimos e financiamentos, principal fonte de receita da instituição, caiu de R$ 4,5 bilhões para R$ 2,8 bilhões, segundo dados da consultoria Austin Rating. Até o fim do ano, a carteira deve encolher para R$ 1,7 bilhão, afirma o presidente da consultoria, Erivelto Rodrigues. Os maus resultados, aliados à imagem arranhada pelas investigações da CPI dos Correios, como intermediário de empréstimos ao PT, fez com que a instituição acelerasse um processo de reestruturação do grupo. Segundo o diretor-executivo do Rural, João Heraldo Lima, as mudanças começaram a ser estudadas há um ano e meio por um grupo de quatro consultorias (Mckinsey, Accenture, Hay do Brasil e Amaná-Key) e visavam a aumentar a competitividade do banco no mercado.

Com a crise, no entanto, essa reestruturação ganhou corpo e nomes de peso, como o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, o ex-diretor do BC Paolo Zaghen, o ex-presidente do Banco do Brasil Nelson Carvalho e o advogado Caetano Vasconcellos Neto. Juntos, eles terão de reverter os números negativos apresentados no último balanço.

O lucro de R$ 60 milhões em junho de 2004 foi revertido para um prejuízo de R$ 129,70 milhões. Isso porque a empresa foi obrigada pelo BC a fazer um provisionamento referente a créditos de difícil recuperação no valor de R$ 156 milhões. Nesse valor estão incluídos os empréstimos feitos a Marcos Valério e ao PT.

Com isso, o patrimônio líquido da instituição caiu 17,4%, para R$ 525,5 milhões. Mas a instituição afirma que já iniciou uma política agressiva de recuperação de créditos, com execução judicial de todos os tomadores e seus avalistas, dos créditos vencidos, não pagos e provisionados.

A crise também teve reflexo nos ativos totais, que despencaram 38,8%, de R$ 7,59 bilhões para R$ 4,65 bilhões. A rentabilidade sobre o patrimônio ficou negativa em 49,4%. Os depósitos recuaram 46,8%, de R$ 4,51 bilhões para R$ 2,40 bilhões. "Além disso, para fazer frente aos saques tivemos de reduzir nossa carteira de crédito para reforçar o caixa da instituição", afirma Lima. Ele diz que a situação está controlada neste momento.

O primeiro passo da reestruturação do banco, diz o executivo, será a redução da estrutura física. O número de agências (79) e o quadro de funcionários (1.800 pessoas) será cortado em torno de 30%. Um Programa de Demissão Voluntária (PDV) já está em andamento. "Se por um lado as medidas reduzem o tamanho do banco, por outro preservam sua saúde financeira e garantem a solidez", afirma a instituição, em nota divulgada ontem ao mercado.

Para o presidente da Austin Rating, o Banco Rural começa uma nova fase daqui para a frente. Mas ele alerta para a necessidade de corrigir a imagem do banco no sistema financeiro. "Seria interessante eles começarem a pensar numa possível mudança de nome da instituição", afirma. Questionado sobre essa possibilidade, Lima disse apenas que as opções estão em discussão.