Título: Falta de investimentos impede expansão na AL
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Economia & Negócios, p. B11

A forte redução dos investimentos em infra-estrutura na América Latina e no Caribe na última décadas tornou-se um impedimento para um crescimento econômico mais dinâmico, que contribua para a reduzir da pobreza e aumente a capacidade da região de competir com a China e outras economias da Ásia. Esta é a principal conclusão de um estudo divulgado ontem pelo Banco Mundial (Bird). De acordo com o relatório, elaborado pelas economistas Marrianne Fay e Mary Morrison, a região gasta atualmente menos 2% do PIB em infra-estrutura, ou seja, quase metade dos 3,7% que investiu no período de 1980 a 1985. Se, no entanto, o objetivo for elevar a taxa de investimento às exibidas hoje pela China e Coréia do Sul, que duas décadas atrás estavam atrás da América Latina nesse quesito, a região precisará puxar seus investimentos em infra-estrutura para a faixa dos 4% a 6% do PIB.

O relatório contem uma simulação segundo a qual o Brasil, que hoje investe apenas 0,5% do PIB em infra-estrutura, precisaria aumentar suas aplicações no setor em 1,5% do PIB para adicionar 2,9% à taxa de crescimento anual. Um aumento de 2,4% desses investimentos setoriais, que seria necessário para dar ao País uma infra-estrutura básica comparável à da Coréia do Sul, elevaria o PIB brasileiro em 4,4%.

Implícito no estudo está o reconhecimento pelo BIRD sobre a necessidade de voltar a dar ênfase ao setor. Conhecido no passado como "o banco da infra-estrutura", o BIRD viu a participação no setor cair a meros US$ 350 milhões no ano 2000, em uma carteira total de pouco mais de US$ 5 bilhões.

"Sete anos atrás, nenhum de nós poderia de antevisto que o espaço fiscal, o descontentamento público com a privatização e a necessidade de trazer de volta o setor público seria tópicos-chave de hoje", justificou a vice-presidente do BIRD para a América Latina e Caribe, Pamela Cox. "1988 foi o ano em que as transações em infra-estrutura com participação privada chegaram perto de 2% do PIB da região. A América Latina recebia metade dos investimentos privados em infra-estrutura e a região progrediu mais e mais depressa do que qualquer outra do mundo em desenvolvimento na incorporação da noção de que a competição precisava ser introduzida em (projetos de) infra-estrutura e que o setor privado tinha um papel chave a desempenhar".

O problema, como lembrou Cox, é que "infelizmente, o setor privado perdeu o apetite pelos mercados emergentes e por (investimentos em) infra-estrutura", enquanto que "o setor público está desamasiadamente limitado em termos fiscais na maior parte da América Latina para investir de forma significativa no setor".

O relatório não oferece receitas prontas, mas identifica três desafios e sugere caminhos que os governos poderiam explorar para enfrentá-los.

O primeiro é que os governos precisam retomar seu papel de condutores dos investimentos em infra-estrutura, o que implica num bom manejo fiscal que permita mais espaço para "investir mais e investir melhor" em infreestrutura, lembrou Marianne Fay.

Igualmente crucial é atrair de volta os investimentos privados, o que passa pela adoção de sistema regulatórios confiáveis e estáveis, que evitem as renegociação de contratos e criem um clima atraente para os investidores. O terceiro desafio é reduzir a insatisfação popular com a participação do setor privado na infra-estrutura, detectada em pesquisas conduzidas em vários países. De sua parte, o BIRD já começou a refocalizar seus programas de modo a beneficiar os investimentos em infra-estrutura. Segundo Pamela Cox, eles atingiram US$ 1,25 bilhão , ou cerca de um quarto da carteira de créditos para a região, no ano fiscal encerrado em junho passado. Segundo ela, isso reflete a conclusão do BIRD de que "se deve dar mais atenção à agenda do crescimento e que focalizar apenas nos setores sociais não suficiente para reduzir a pobreza".