Título: 'Quero meu filho vivo de qualquer jeito'
Autor: Valdir Sanches
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Vida&, p. A20

Atrás de um biombo, porque prefere não se expor, Rosemara Silva Santos falou ontem aos jornalistas sobre sua vida e seu filho, J., de 4 anos, internado há quatro meses no Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um hospital de Franca, a 420 km de São Paulo. O garoto sofre de uma síndrome metabólica degenerativa, que, na avaliação dos médicos, vai levá-lo progressivamente à morte. Rosemara falou sobre a polêmica em torno do desejo de seu ex-marido, Jeson de Oliveira, que quer ir à Justiça para que o garoto seja submetido à eutanásia - o desligamento dos aparelhos que o mantêm vivo -, sob alegação de que ele está sofrendo. "Eu tenho a minha cabeça, ele tem a dele. Eu não aceito a eutanásia, é fora de tudo o que eu aprendi", afirmou. "Meu filho poderia estar sem um braço, uma perna, mas de qualquer jeito eu o quero vivo. Eu quero passar cada dia com ele. Todo dia eu prometo para ele: 'J., a mamãe te promete que a gente vai ser muito feliz, esse pesadelo todo vai passar'."

J. alimenta-se por uma sonda e respira com ajuda de aparelhos. Também não enxerga, não fala e não move mais pescoço, braços e pernas. "No começo achei que a doença era um castigo, me causou uma depressão muito forte", disse. "Mas com o tempo e tudo o que tenho aprendido, acredito que Deus escolheu a mim e a outras mães de crianças especiais para isso. Não é fácil você ouvir o médico falar que seu filho não tem cura, que você vai perdê-lo. Você se sente sem chão, a força vai embora."

Apesar de tudo, ela ainda mantém a esperança. "Todas as noites eu agradeço a Deus por não ter faltado nada ao J. Às vezes estava acabando a fralda, o alimento (uma sopa nutritiva) e Deus enviava um anjo. São muitas as pessoas que ajudam", disse. "Espero até um milagre para ele voltar a ser o que era."

Rosemara só não respondeu a perguntas sobre o ex-marido, acusado de agredi-la (veja texto ao lado). No anfiteatro do hospital, explicou por que não queria mostrar o rosto. "Não quero ninguém me apontando na rua."