Título: Iraque enforca para combater crime
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Internacional, p. A18

Três iraquianos condenados por assassinato foram enforcados ontem, nas primeiras execuções legais no Iraque desde o fim do regime de Saddam Hussein, em abril de 2003. Os enforcamentos ocorreram enquanto milhares de pessoas assistiam aos funerais dos centenas de xiitas que morreram pisoteados, sufocados ou afogados na quarta-feira durante uma peregrinação em Bagdá. As autoridades iraquianas restauraram a pena de morte após o fim formal da ocupação das forças estrangeiras, em junho de 2004, para combater a criminalidade e ter a possibilidade de enforcar Saddam se ele for condenado por crimes contra a humanidade. O ex-ditador será julgado após o referendo constitucional previsto para 15 de outubro, disse ontem um funcionário do governo iraquiano.

Os três iraquianos foram presos no final do ano passado depois de dispararem contra várias pessoas e matarem três policiais na localidade de Al Madain, 35 quilômetros a sudoeste de Bagdá. Eles são suspeitos de pertencerem ao grupo terrorista Ansar al-Sunna. A condenação à morte não foi firmada pelo presidente iraquiano, Jalal Talabani, que se manifestou contra a reinstauração da pena capital no Iraque, mas foi aprovada pelo vice-presidente, Adel Abdelmahdi. A União Européia lamentou ontem que o governo iraquiano tenha escolhido aplicar a pena de morte e lembrou sua oposição ao uso desse tipo de punição.

O primeiro-ministro iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, ordenou ontem a formação de uma comissão para investigar o incidente que custou a vida de 1.030 peregrinos xiitas e deixou 815 feridos e o pagamento de uma compensação de US$ 2.055 para a família de cada vítima.

"Este crime odioso cometido contra os peregrinos do imã Musa al-Kazem demonstra a selvageria dos terroristas que conduzem um genocídio contra o povo iraquiano", disse ontem o presidente Talabani.

A onda de pânico entre os cerca de 3 milhões de peregrinos que seguiam para a mesquita do imã Musa al-Kazem - o terceiro santuário mais sagrado para os xiitas do Iraque - começou após os rumores de que havia um suicida com uma bomba na ponte. Dezenas de pessoas pularam da ponte ou foram empurradas até cair no Rio Tigre, onde se afogaram, enquanto outras morreram pisoteadas. Minutos antes da tragédia, rebeldes atacaram a multidão com granadas e foguetes Katiusha, matando sete peregrinos.

A raiva e a impotência dos xiitas pela falta de medidas de segurança na ponte levou ontem a um tiroteio entre soldados iraquianos e seguidores do líder religioso xiita radical Muqtada al-Sadr, que deixou um morto e sete feridos. Os xiitas responsabilizam os Ministérios do Interior e da Defesa pelo incidente.