Título: ...Baton Rouge dobrava
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Internacional, p. A16

Cento e dez quilômetros a oeste de New Orleans, a capital estadual, Baton Rouge, e seu distrito receberam vendaval próprio na noite de quarta-feira: uma onda enorme de pessoas desalojadas, trazendo consigo seu sofrimento, sua miséria e seu desespero. Em um dia, essa cidade se tornou a maior da Louisiana, e autoridades locais preocupadas previram que ela dobraria de tamanho, para cerca de 800 mil moradores, permanentemente.

"A Baton Rouge onde vivemos e crescemos não existe mais", disse o vereador Mike Walker. "Essas pessoas estão aqui para ficar, talvez para sempre."

O chefe de polícia municipal, Jeff Leduff, disse que ônibus e motoristas voluntários começaram a recolher moradores de New Orleans extraviados nas estradas na quarta-feira à noite, e depois "deixá-los onde viam algum aglomerado de luzes, casas, alguma loja."

Cerca de 3 mil refugiados apareceram, de repente, por volta da meia-noite, no câmpus da Universidade Estadual da Louisiana, onde o abrigo já estava lotado. Eles não foram aceitos.

A maioria acabou parando nas salas de emergência dos três maiores hospitais da área, onde "criaram uma tremenda confusão" durante a noite, segundo o doutor Louis Minsky, diretor de saúde do distrito de East Baton Rouge.

Há relatos de tentativas de roubos de carros em postos de gasolina 24 horas e as autoridades decidiram encerrar a venda de gasolina às 22 horas.

Subdelegados e guardas armados foram enviados para fazer a segurança de supermercados, e a polícia montou controles permanentes no centro da cidade, onde a governadora Kathleen Babineaux Blanco, a senadora Mary Landrieu e o diretor da FEMA (agência federal para administração de emergências), Michael Brown, estão concentrados.

A paróquia também tem várias barracas da Cruz Vermelha com pelo menos 10 mil pessoas, onde a segurança é um crescente problema.

"Todos no River Center - o maior dos abrigos - têm telefone celular e quando eles ficam sem remédios simplesmente telefonam para o 911 (emergência)", disse uma porta-voz do Departamento de Serviços de Emergência.

Centenas de novos sem-teto e pobres lotaram as áreas de distribuição de comida para se registrarem.

Além de tudo isso, 55 mil pessoas permanecem sem energia elétrica, as escolas estão fechadas, o trânsito sofre constantes congestionamentos e as lojas estão superlotadas.