Título: 'Acordo com os europeus é a melhor chance para o Brasil'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Economia & Negócios, p. B1
Com as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) em banho-maria e as poucas perspectivas de entendimento na Organização Mundial do Comércio (OMC), alguns altos funcionários da União Européia (UE) avaliam que o acordo entre o Mercosul e o bloco europeu é uma das raras possibilidades de êxito para a política exterior do Brasil no atual governo. O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, afirmou que, até agora, a crise política no Brasil não afetou os debates entre os dois blocos. "Por enquanto, não sentimos o efeito", observou. Mas, em Bruxelas, negociadores parecem não descartar que a falta de resultados na Alca e em outras negociações possa fazer o Brasil apostar cada vez mais no acordo com a UE.
Para certos negociadores de em Bruxelas, a pressão por resultados pode contar na hora de a UE fazer uma proposta ao Mercosul. "Há vários cenários, um deles é que, sabendo da pressão no Brasil, há quem diga que a oferta que a UE fizer ao Mercosul será inferior ao ideal. Outra possibilidade é a oferta do Mercosul ser maior para tentar convencer a UE a aceitar um acordo ", afirmou um negociador.
Segundo outro funcionário do alto escalão da Comissão Européia, "se o governo brasileiro está lutando tanto para conseguir um resultado, é melhor que se empenhe em fechar o acordo conosco".
Na avaliação da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), um acordo entre o Mercosul e a UE já poderia ter sido assinado em setembro de 2004. A entidade aponta que o entendimento esteve próximo e o setor aceitava as cotas oferecidas pelos europeus. "Esse acordo é muito importante para o agronegócio brasileiro", afirmou um representante da CNA.
A UE não deixa nem mesmo de usar certas táticas que poderiam ser consideradas chantagem para negociar a abertura de seu mercado agrícola. Em pelo menos duas ocasiões, Bruxelas indicou que poderia oferecer cotas maiores aos produtos nacionais se o País não tivesse questionado nos tribunais da OMC as práticas desleais da UE.
O Brasil abriu queixa na OMC contra as barreiras da UE às exportações de frango e outras. Segundo representantes do setor privado nacional, os europeus chegaram a propor que o Itamaraty desistisse da disputa e, em troca, receberia uma cota maior para a exportação de frango. O Brasil não aceitou e venceu a disputa na OMC.