Título: Eufórico, Palocci fala em 'crescimento robusto'
Autor: Ribamar Oliveira e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Os números divulgados terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levaram o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a abandonar sua conhecida atitude cautelosa e comedida. Sem esconder a euforia, Palocci disse ontem, durante palestra no Fórum Especial do Instituto Nacional de Altos Estudos, que o Brasil está vivendo "um dos mais robustos ciclos de crescimento das últimas décadas". Ele afirmou também que os indicadores sobre a vulnerabilidade externa do País e sobre a solidez das contas públicas "são os melhores dos últimos 20 anos". Na avaliação do ministro, o mais importante a ser observado nos dados do IBGE é que os investimentos estão crescendo num ritmo mais forte do que a atividade econômica como um todo. Palocci disse que esse dado assegura um crescimento sustentado da economia.

Ele chegou a falar que o Brasil ingressou "num ciclo de desenvolvimento duradouro". Para o ministro, o melhor é que o atual crescimento vem acompanhado do aumento do nível de emprego formal. Nos últimos 2 anos, disse, o País criou cerca de 3 milhões de empregos com carteira assinada.

Palocci citou números que mostram, segundo sua avaliação, a situação excepcional vivida pelo País. A dívida externa líquida, afirmou, já chegou a representar três vezes o valor das exportações. Hoje ela equivale a 30% das exportações. As exportações passaram de US$ 60 bilhões em 2002 para US$ 110 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses. O saldo comercial, que era de US$ 13 bilhões há 2 anos e meio, hoje está em torno de US$ 40 bilhões, no acumulado de 12 meses. Ele atribuiu esse forte crescimento das exportações ao sistema de câmbio flutuante.

Na área interna, Palocci destacou a queda da participação da dívida indexada ao dólar no total do endividamento público brasileiro. "A sensibilidade da dívida ao câmbio foi reduzida em cinco vezes", disse, observando que agora o desafio é reduzir a participação dos títulos indexados à taxa Selic e melhorar os prazos dos papéis. Palocci afirmou que a inflação, que chegou a 17% ao ano ao final de 2002, está sob controle. Segundo ele, o mercado já projeta taxas de inflação para 2005 próximas do objetivo de 5,1% perseguido pelo Banco Central. Para o ministro, esse sucesso decorre da "firme política monetária" adotada pelo BC.

O ministro acha que o País deve agora enfrentar o déficit da Previdência Social, que apresentou forte crescimento nos últimos anos.

Além disso, observou que é fundamental estabilizar os gastos correntes do governo em 17% do PIB. "Só assim serão criadas condições para a desoneração tributária dos investimentos, para realizar maiores investimentos e para uma maior poupança, quando isso for necessário. Hoje, temos mais clareza sobre a política e os ajustes necessários para o crescimento." Palocci pediu que a crise política não paralise os trabalhos no Congresso.

O presidente do BNDES, Guido Mantega, que também participou do fórum, transmitiu o mesmo otimismo. Para ele, o segundo semestre será muito melhor para a economia do que o primeiro. "Além das condições favoráveis que já existem, neste momento, temos outras condições mais favoráveis, que são a queda dos juros e a melhoria do câmbio."

Mantega previu que o País vai ingressar em 2006 com uma economia "em plena efervescência" e arriscou uma previsão de expansão do PIB de 5% em 2006.