Título: Deflação do IPC-S é recorde: 0,44%
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

Pela segunda vez seguida, o Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) atingiu o resultado mais baixo de sua história e registrou deflação de 0,44% no período encerrado em 31 de agosto, ante -0,33% na apuração anterior. Abaixo das estimativas do mercado, a queda, anunciada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), decorre sobretudo do recuo nos preços de alimentos (- 1,30% para -1,57%) e habitação (0,10% para - 0,02%). O IPC-S é calculado desde janeiro de 2003. O bom cenário nos preços ao consumidor também foi captado por outro indicador. O núcleo da inflação do varejo medida pelo IPC-S de até 31 de agosto subiu apenas 0,07%. Foi o menor núcleo desde novembro de 1998, e abaixo do resultado anterior, de 0,30%. Esse indicador é calculado com a exclusão das principais quedas e das maiores altas e funciona como indicador de tendência da inflação.

"Essa taxa do núcleo é mais um sinal positivo para que a decisão de reduzir juros acabe acontecendo mais cedo ou mais tarde", disse o economista da FGV, André Braz. Ele explicou que, no caso dos alimentos, houve "deflação generalizada".

Dos 21 itens alimentícios pesquisados, 16 apresentaram taxas negativas. Entre os destaques estão hortaliças e legumes (de -5,82% para -7,73%) e arroz e feijão (-1,21% para -1,93%). "O recuo está bastante disseminado nos alimentos", disse.

Os preços administrados, que quase sempre puxam para cima os indicadores, desta vez ajudaram a derrubar o IPC-S. Foi expressiva a queda das tarifas de luz, gás e telefone (0,13%), graças ao recuo da energia elétrica, de 0,92%. Isso ajudou o custo da habitação a cair.

Outro fator que puxou para baixo o IPC-S foi o preço da gasolina, que caiu 0,38%). Para o analista da consultoria Tendências Gian Barbosa, esse recuo foi surpreendente, já que a gasolina estava subindo na apuração anterior (0,03%). Para Barbosa, o combustível contribuiu muito para a deflação no IPC-S. Essa é a mesma posição do economista da FGV.

Braz explicou que a redução é decorre basicamente do recuo de preço do álcool combustível (de 1,49% para 1,10%), já que a gasolina tem 25% de álcool em sua composição. "Enquanto não for liberado um aumento no preço da gasolina, esse é um fator fundamental para a redução da taxa do IPC-S", disse.

Os próximos resultados do IPC-S continuarão baixos, mas, provavelmente, não tão baixos quanto o anunciado ontem, na avaliação de Braz. Para o economista da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), João Carlos Gomes, o cenário para os próximos resultados é positivo. "Acreditamos que a tendência da inflação é de inexistência de pressões futuras, em vista do bom comportamento do câmbio e do clima favorável", disse.

CESTA BÁSICA

O custo da cesta básica caiu nas 16 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em agosto. As quedas variaram de 0,49% (Salvador) a 6,37% (Recife). Também na comparação com agosto de 2004, o custo dos gêneros essenciais apresentou queda em todas as localidades, com variações de 1,92% (Goiânia) a 11,85% (Florianópolis). No ano, a cesta básica apresenta taxa negativa em sete capitais.