Título: Um flagrante nos Correios e acaba a paz do governo Lula
Autor: Denise Madueño e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Nacional, p. A6

Em 13 de maio de 2005, seu último dia de paz, o governo Lula era feliz e não sabia. No dia seguinte, a revista Veja foi para as bancas com uma denúncia: Maurício Marinho, funcionário dos Correios, foi filmado combinando licitações e pedindo propinas a dois supostos empresários. Marinho fora indicado pelo PTB. Começava o mais devastador escândalo da República. A primeira reação do governo Lula foi tentar circunscrever as denúncias aos Correios e ao PTB de Roberto Jefferson. A opção traçava a rota do próprio calvário. Por três semanas, Jefferson tentou se defender, cada vez mais acuado. Quando reagiu foi para dar ao governo, ao PT e, em especial, ao então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o abraço do afogado. No começo, houve êxito: a Mesa da Câmara descartou a proposta de processo contra Jefferson. No dia 17 de maio Jefferson foi à tribuna da Câmara para se explicar. Não saiu da defensiva. Mas a oposição conseguiu colocar pressão nas investigações e formalizou o pedido de uma CPI para apurar Correios e IRB. Nos dias posteriores, o cerco apertou em torno de Jefferson, envolvendo sua filha e seu genro nas denúncias. Ele se isolou. O governo tentou cristalizar a situação, mas Jefferson percebeu que, naquela progressão, ele seria o grande responsabilizado. Deve ter procurado, sem êxito, guarida no governo e no PT. No dia 6 de junho, explodiu. Em entrevista à Folha de S. Paulo introduziu no vernáculo pátrio a palavra "mensalão". O PT desmentiu, mas o governador Marconi Perillo, de Goiás, confirmou que havia uma mesada para deputados. Jefferson voltou à carga uma semana depois, no Conselho de Ética da Câmara, dizendo que o esquema era mantido por dinheiro de empresas estatais e privadas. Cita pela primeira vez, o publicitário Marcos Valério, "um carequinha lá de Minas". Acusou Dirceu de chefiar o esquema - e cantou a sua queda. A secretaria Karina Somaggio contou que viu malas de dinheiro saindo da SMPB. Dois dias depois Dirceu desabou. Em casa, Jefferson festejou. Um amigo que foi visitá-lo revelou: "Ele sabe que a queda de Dirceu é só o começo." Logo surgiriam os primeiros indícios de empréstimos e saques milionários. E Jefferson indicaria onde o mensalão era pago: a agência do Banco Rural, em Brasília. Era a primeira pista sólida. Aos poucos, as investigações revelaram a radiografia do esquema. Além dos dólares na cueca, logo o publicitário Duda Mendonça revelou que até a campanha de Lula à Presidência foi paga com dinheiro do caixa 2. Dentro do PT, o enfrentamento de correntes chegou ao clímax pela proximidade da renovação da direção partidária. O escândalo chegou à portaria do Ministério da Fazenda. A dúvida que permeou toda a crise continua em aberto - e Lula, sabia?