Título: Na defesa de Jefferson 'vai sobrar para todo mundo'
Autor: Denise Madueño e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Nacional, p. A6

Recolhido desde a apresentação do parecer do Conselho de Ética da Câmara, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) prepara uma defesa agressiva para fazer no plenário da Câmara no dia da votação de sua cassação, que ocorrerá, provavelmente, dia 13. De acordo com interlocutores de Jefferson, o deputado não poupará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apontará o destino dos R$ 4 milhões que afirmou ter recebido do PT, por meio do empresário Marcos Valério de Souza. "Vai sobrar para todo mundo", sentenciou um petebista, em tom ameaçador. Na noite de quarta-feira, véspera da aprovação do pedido de cassação de seu mandato no Conselho de Ética, Jefferson se reuniu com a bancada do PTB para uma confraternização e avisou sobre sua estratégia.

"Ele vai dar o destino dos R$ 4 milhões. Ele não vai assumir essa pecha de que o dinheiro ficou com ele", afirmou o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), que participou da festa de apoio a Jefferson na casa do senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), em um bairro nobre de Brasília.

Marquezelli não descartou também a possibilidade de Jefferson se apresentar com o dinheiro para fazer sua defesa. "É uma hipótese o dinheiro aparecer até lá. Ele não pode assumir que o dinheiro está com ele."

A possibilidade de Jefferson apontar supostos beneficiários dos R$ 4 milhões que recebeu e não contabilizou está sendo vista por deputados como uma ameaça do parlamentar para evitar sua cassação. "Ele pode comprometer algumas pessoas. Se ele deu o dinheiro para alguém que não 'recibou' (sic), não comprovou, essa pessoa está comprometida", disse Marquezelli.

O próprio Jefferson articulou a realização da festa, mas o líder do PTB, José Múcio (PE), assumiu a convocação. "Há três meses ele não via a bancada. Fomos levar nossa solidariedade. Não queremos simplesmente protegê-lo, mas que esse processo termine logo." Estavam lá pelo menos 40 parlamentares.

Jefferson aposta nas pressões políticas que tem feito e na sua capacidade de oratória para reverter o pedido de cassação em plenário, sustentam interlocutores. No dia da votação, ele poderá falar, da tribuna, por 25 minutos, mesmo tempo reservado a seu advogado. "Ele tem a simpatia da Casa, prestou um serviço expondo à sociedade todos os problemas. Estamos conscientes e tranqüilos", afirmou Múcio.