Título: 'Não troquei de partido nem fiz caixa 2'
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Nacional, p. A10

Apontado como um dos parlamentares que será investigado pelo Conselho de Ética da Câmara por suposto envolvimento no escândalo do mensalão, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) afirmou ontem que é "inocente" e disse ter certeza que vai ser "absolvido em qualquer votação que peça sua cassação". O ex-presidente da Câmara é investigado pelo saque de R$ 50 mil que sua mulher, Márcia Regina Cunha, fez na agência do Banco Rural, em Brasília, e que teria sido pago com recursos enviados pelo empresário Marcos Valério.

Na porta de seu gabinete, a poucos metros da sala da comissão onde o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), apresentou ontem seu parecer, João Paulo afirmou que não pode ser condenado porque não cometeu nenhum delito que o envolva com o chamado mensalão.

"Sou inocente", assegura. "Não cometi nenhum dos atos que dizem que foram cometidos por quem recebeu mensalão. Dizem que quem pegou mensalão foi para trocar de partido. Eu não troquei de partido. Dizem também que era pago para quem votasse a favor do governo. Eu era presidente da Câmara e não votava porque presidia a sessão. Dizem também que o mensalão foi para pagar caixa 2. Minha campanha não teve caixa 2", alega.

Sobre o fato de sua mulher ter feito o saque de R$ 50 mil no Banco Rural, João Paulo disse em sua defesa, feita por escrito e entregue à CPI dos Correios, que, "procurado pelo coordenador do PT da macrorregião de Osasco, solicitando apoio para a realização de pesquisas de opinião, face a dificuldades financeiras partidárias, buscou auxílio perante a Tesouraria Nacional do partido". "Tal ajuda consistiu da quantia de R$ 50 mil, que foi disponibilizada na agência do Banco Rural de Brasília, tendo o saque sendo efetuado por sua mulher, Márcia", completou.

Segundo o relatório entregue ontem por Serraglio, João Paulo explica na defesa que "recorrer à Tesouraria Nacional para socorrer diretórios municipais e estaduais no pagamento de dívidas de eleições pretéritas ou na preparação de processos eleitorais é uma prática que norteia a vida partidária brasileira". João Paulo alega que todo o dinheiro sacado foi gasto com o pagamento de quatro pesquisas.

"Acho que o fato de eu ter mandado alguém da minha família para fazer esse saque é mais um reforço de como não havia nada ilegal. Se fosse algo clandestino, eu não teria feito isso", conta.

O ex-presidente da Câmara avalia também que não pode ser condenado já que sequer foi ouvido pela CPI dos Correios em depoimento.

"Como alguém poderia me condenar se nem fui ouvido na sessão da CPI para me defender?", argumenta. "Só me foi pedida uma defesa por escrito."

"Não tem nada contra mim e quero provar minha inocência na Câmara e na sociedade", disse .