Título: Velhinha não ressuscita no governo Lula, diz Verissimo
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Nacional, p. A12

Quem torce pela ressurreição da Velhinha de Taubaté ainda no governo Lula pode esquecer. O pai da personagem que sempre acreditou nos governos, o escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo, de 68 anos, disse ontem que a medicina se modernizou, mas acha que a simpática senhora não deve retornar à vida tão cedo. Ele explica que é difícil acreditar no governo ou em opositores como Jorge Bornhausen (PFL-SC). "Vamos ver se ela ressuscita, pode ser, mas vai depender de as pessoas voltarem a acreditar na política e nos políticos", disse o cronista, durante solenidade no Itamaraty. "A situação obviamente é que poucos acreditam."

Sinônimo de credulidade, a Velhinha de Taubaté foi criada no governo João Batista Figueiredo (1979-1985). Ela confiava nos militares que garantiam não existir tortura no Brasil. Já na redemocratização, a personagem acreditou no presidente Fernando Collor (1990-1992) em pleno processo que resultou no impeachment dele.

A morte da velhinha foi relatada por Verissimo numa crônica publicada no Estado em 24 de agosto, aniversário da morte de Getúlio Vargas.

Luis Fernando Verissimo esteve em Brasília para receber, em nome da família, a Medalha Rio Branco concedida in memoriam pelo governo ao pai dele, o também escritor Érico Verissimo (1905-1975), autor da trilogia O Tempo e o Vento.

Na entrevista, o cronista aproveitou para fazer duras críticas à direita, especialmente ao presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), pela conduta no atual processo político. "A reação da direita começou na eleição do presidente Lula. O Bornhausen foi honesto ao dizer claramente que quer acabar com a raça da esquerda", disse Verissimo. "O PT se autodestruiu, mas a direita está aproveitando a crise para acabar com a esquerda." Ao analisar a situação do PT, Verissimo ressaltou que o partido perdeu uma grande oportunidade de fazer mudanças no País.

Ele não arriscou, no entanto, fazer uma previsão do que vai ocorrer nas próximas eleições. "O Brasil é um país que não tem muita memória. Mal se lembra da CPI de outros anos", disse. "Desta vez, o trauma está sendo maior porque a esquerda está no governo."

No ano do centenário de nascimento de Érico Verissimo, Luis Fernando recomendou a leitura de O Arquipélago, terceiro volume da trilogia O Tempo e o Vento, obra sobre a ocupação do Rio Grande do Sul. O volume faz uma releitura da história brasileira até 1945. "É o fim do Estado Novo, já é o começo da UDN e desta crise", disse Luis Fernando.