Título: PSDB vai atrás de movimentos sociais
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Nacional, p. A13

Antes que a crise política seja resolvida, o PSDB já está procurando nova inserção nos movimentos sociais e segmentos do terceiro setor. Ao lançar o seminário "Renovar Idéias - Desenvolvimento, Qualidade de Vida e Democracia no Brasil Moderno", a professora e ex-primeira-dama Ruth Cardoso reclamou da enorme distância entre os partidos e os movimentos sociais no Brasil. Numa ironia, o prefeito José Serra, que esteve presente ao lançamento, disse que o seminário deveria se chamar "O Barulho dos Intelectuais", em contraposição ao seminário "O Silêncio dos Intelectuais", que tenta colher explicações sobre intelectuais de esquerda que apoiaram o PT e deixaram de criticar o governo Lula. "A nossa resposta é fazer com que os nossos intelectuais falem alto e bom som", afirmou.

A idéia do seminário, segundo Ruth, é começar uma movimentação para juntar o PSDB, o meio acadêmico e movimentos sociais. Ela disse que a democracia precisa se adequar às novas demandas da sociedade e incorporar a seus programas partidários as contradições que nasceram nos anos 70. Se os partidos se integrarem a esses novos movimentos, argumentou, suas macropolíticas serão montadas mais facilmente e darão melhor resultado, quando aplicadas.

"Não podemos mais falar em justiça social numa sociedade cortada por discriminações de todo tipo", disse. Para ela, os problemas da mulher, dos negros, dos deficientes físicos, índios, vítimas da violência terão respostas mais eficazes do Estado se fizerem parte dos programas dos partidos, que passariam a ser seus porta-vozes.

Ruth criticou as políticas sociais governamentais de 2003 para cá, afirmando que está embutido nelas o germe da tradição assistencialista. "Não se combate pobreza com doações. Há séculos o Estado e pessoas distribuem doações aos pobres e o perfil da pobreza não mudou."

REDE

Ela sugeriu que o PSDB estude novos enfoques de políticas públicas considerando as possibilidades das novas tecnologias. "Vivemos numa sociedade que está em rede. A sociedade já é naturalmente regida por mecanismos de rede, porque facilitam a cooperação." Ela defende a inclusão digital como forma de dar às comunidades maior nível de informação e um meio de manifestação política.

Ruth também se posicionou contra o projeto que reforma a propaganda partidária e eleitoral. Para ela, a prática política "já tem poucos atrativos para o cidadão comum" e, se forem proibidas as formas mais criativas de propaganda eleitoral, o afastamento será maior ainda.