Título: Preso diz que Sombra prometeu R$ 1 milhão por morte de Daniel
Autor: Rosa Costa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Nacional, p. A15

Custou R$ 1 milhão a cabeça de Celso Daniel, o prefeito de Santo André que o PT havia escalado para coordenar a campanha de Lula à Presidência. Por esse dinheiro, Celso Daniel foi capturado na noite de 18 de janeiro de 2002, na periferia de São Paulo, levado para um cativeiro nas cercanias da Rodovia Régis Bittencourt e, dois dias depois, crivado de balas 9 milímetros. A revelação foi feita ontem à tarde por um dos acusados pela morte do prefeito, que está preso em uma penitenciária de segurança máxima. Seu nome é mantido em sigilo pelo Ministério Público, que teme pela vida do denunciante.

Ele apontou o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sérgio Chefe ou Sérgio Sombra, como mandante e mentor da trama. Amigo e segurança do prefeito, Gomes teria preparado a armadilha porque Celso Daniel havia decidido dar um fim em suposto esquema de corrupção e desvio de verbas públicas para financiamento de campanhas eleitorais do PT.

O prefeito teria sob sua guarda minucioso dossiê apontando a participação de empresários, entre eles Sérgio Gomes, e políticos. O relato do prisioneiro tem peso extraordinário para os promotores que há 3 anos e meio investigam o caso que incomoda o Palácio do Planalto e o PT. "A proposta era seqüestrar, pegar os documentos que a vítima guardava e depois era para matar", confessou o preso.

Mas o dinheiro prometido não teria sido pago, pelo menos para alguns dos executores, que foram sete, todos já identificados e detidos enquanto aguardam julgamento. Um que não recebeu pelo serviço é o preso que ontem foi interrogado. "O dinheiro ia ser dividido em partes iguais", afirmou.

O promotor Roberto Wider e a delegada Elizabeth Sato tomaram o depoimento. "O prisioneiro estabeleceu uma ordem para os fatos", contou o promotor. "Sérgio contratou Dionísio, que contratou José Edson, que fez parceria com a quadrilha do Ivã Monstro."

Dionísio de Aquino Severo, assaltante-seqüestrador que teria comandado a operação de resgate do prefeito, está morto. Ele foi golpeado cem vezes por um estilete na prisão do Belém, zona leste de São Paulo. Severo morreu a 10 de abril de 2002 - dois dias antes avisara que contaria tudo sobre a execução de Daniel. A polícia nunca identificou o matador de Severo.

José Edson e Ivã Rodrigues, o Ivã Monstro, estão presos. À polícia confessaram a morte de Celso Daniel, mas afirmaram que não sabiam que a vítima era um prefeito do PT. Também não acusaram Sérgio Gomes. O prisioneiro ouvido ontem declarou: "O Monstro veio de Campinas no sábado (19 de janeiro de 2002) com a ordem de matar, ele veio com proposta de R$ 1 milhão. A gente concordou. O serviço não era só matar, era também para pegar documentos." Ele disse que não sabe que documentos eram aqueles. Afirmou que o autor dos disparos contra Celso Daniel, oito ao todo, foi José Edson.

"Ele (o preso) está inventando tudo isso para tentar obter algum benefício", reagiu o criminalista Adriano Sales Vanni, que defende Sérgio Gomes. "O Sérgio é completamente inocente, não mandou matar Celso Daniel." Vanni alertou que o benefício da delação premiada só é concedido quando a denúncia é comprovada. "Esse rapaz (o denunciante) está com a vida perdida, acusado de seqüestro e morte vai passar o resto dos seus dias na prisão", anotou. "Qualquer coisa que vier é lucro, no desespero atira para todo lado. É muito estranho que tenha resolvido falar isso mais de 3 anos depois de ser preso."