Título: EUA receberão petróleo de 25 países
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês) decidiu ontem enviar aos Estados Unidos 2 milhões de barris de petróleo e gasolina por dia pelo período inicial de um mês, para compensar os sérios danos causados à indústria energética americana pelo furacão Katrina. A IEA tem 26 membros, incluindo os EUA. Na prática, isso significa que Washington colocará no mercado parte de suas reservas estratégicas.

O anúncio foi feito após o fechamento dos mercados nos EUA, mas os rumores de que a ajuda se concretizaria derrubaram o preço do petróleo futuro. O tipo leve recuou US$ 1,90, para US$ 67,57 o barril. Os contratos de gasolina também caíram.

"A IEA consultou os principais produtores e o presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Eles se comprometeram a colocar mais petróleo no mercado", diz a nota oficial divulgada pela entidade com sede em Paris. Ao contrário dos outros membros da IEA, os EUA não têm reservas de gasolina, só de petróleo cru. Como alguns países estão com folga nos estoques, a venda será possível. Os membros da IEA têm estoque conjunto superior a 4 bilhões de barris de petróleo e derivados, sendo que 1,4 bilhão estão sob controle governamental.

"É evidente que nós apoiamos esse pedido dos americanos", disse o chanceler da Alemanha, Gerhard Schr¿der. O espanhol Javier Solana, responsável pelos assuntos externos da União Européia, foi mais incisivo: "O que os EUA pedirem, receberão". A decisão da IEA foi unânime. Cada membro da entidade avaliará seus estoques e o mercado internacional determinará quanto será enviado aos americanos. Mas a França espera enviar 92 mil barris diários de gasolina, a Grã-Bretanha 73 mil e a Espanha, 70 mil. O petróleo e a gasolina levarão dez dias para chegar aos EUA.

O secretário americano de Energia, Samuel Bodman, disse ter informado a IEA sobre a escassez de gasolina. "Todos eles concordaram (em ajudar), e isso é algo que eles podem fazer para estabilizar o mercado energético no mundo inteiro", comentou. "A principal preocupação dos EUA é evitar a interrupção no fornecimento."

O ministro britânico de Energia, Malcolm Wicks, disse que "o mercado de petróleo é global, e uma reação multilateral é o caminho correto para recuperá-lo".

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, prontificou-se a ajudar os EUA com combustíveis e alimentos, mas a oferta foi vista com certa ironia por Washington. A ajuda se daria por meio da filial americana da estatal venezuelana PDVSA. Chávez mantém uma posição muito crítica em relação ao governo Bush. A IEA foi criada em 1973, na primeira crise do petróleo, com o objetivo de proteger os países consumidores.