Título: Usineiros não vêem razão para otimismo
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

Apesar de o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, ter dito que o furacão Katrina pode abrir as portas para o etanol brasileiro, os usineiros não estão tão otimistas. Segundo Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), a competição com os fabricantes americanos de etanol de milho é muito acirrada. "Pagamos uma tarifa de US$ 0,52 por galão (3,78 litros) de álcool, então só conseguimos competir se os preços do etanol lá nos EUA estiverem bastante altos", diz Carvalho. "Precisamos ver se com a alta do petróleo vamos ter essa janela de oportunidade." Isso aconteceu no primeiro semestre de 2004, quando o preço do etanol no Brasil estava baixo e subiu bastante nos EUA. "Aí conseguimos um volume de 227 milhões de litros." Mas, no primeiro semestre deste ano, as vendas para os EUA caíram para 103,5 milhões de litros.

No momento, diz Carvalho, a demanda doméstica está muito boa, com o crescimento das vendas dos veículos flex-fuel. "Não temos capacidade extra para aumentar exportações para os EUA", diz. "A menos que os preços valham a pena, aí vamos desviar vendas."

O mercado brasileiro de etanol é de 14,7 bilhões de litros. Os principais importadores são Coréia, Japão (que usam para fins industriais), Índia e EUA.

Hoje, os EUA importam 55% de todo seu consumo de petróleo e buscam alternativas energéticas. O etanol está substituindo o MTBE como aditivo na gasolina em alguns estados americanos. Mas a maioria do etanol usado nos EUA é feito a partir do milho. O lobby dos produtores de milho é muito forte e o etanol recebe pesados subsídios. O combustível americano é bem menos competitivo que o brasileiro - custa US$ 1,40 o galão, contra menos de US$ 1 o brasileiro. A legislação de energia aprovada recentemente nos EUA exige que o teor de etanol na gasolina dobre até 2012, o que pode aumentar a demanda.

Hoje, o consumo de etanol nos EUA é de 14 bilhões de litros. Além de o etanol ser usado como aditivo, existem 3,5 milhões de veículos flex-fuel, que usam o E85 (85% de etanol e 15% de gasolina). No Brasil, são cerca de 760 mil carros flex-fuel e 3,5 milhões à álcool. Carvalho diz que o mercado dos EUA não é muito promissor, porque a distribuição é precária. Há apenas 450 postos que têm etanol nos EUA, contra 29 mil no Brasil.