Título: Empresário acusa Severino de cobrar propina na Câmara
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Nacional, p. A4

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), teve ontem mais um dia de inferno astral, depois de uma semana de confusões por causa de suas polêmicas declarações sobre a inocência dos deputados investigados pela CPI. Desta vez, o próprio Severino se viu envolvido, por causa de denúncias - ainda não públicas - de que teria cobrado propina do dono de um dos restaurantes da Câmara. O deputado passou quase todo dia reunido com assessores e diretores técnicos da Câmara e no fim do dia, antecipando-se às denúncias, divulgou nota afirmando que estava sendo chantageado por Sebastião Augusto Buani, dono do restaurante no 10º andar do anexo 4 da Câmara. A crise chega a Severino justamente no momento em que ele prepara sua estréia no cenário internacional, onde representará o Congresso na 2ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamentos, na Nações Unidas, em Nova York.

Na nota, Severino afirma que o motivo da chantagem seria a dívida de cerca de R$ 150 mil que Buani acumulou com a Câmara, por não pagar o aluguel do espaço do restaurante.

Depois de 9 meses de atraso, ontem vencia o prazo para que pagasse ou tivesse o contrato rescindido e a dívida executada. 'O senhor Buani vem tentando, nos últimos dias, fazer pressão sobre a direção da Casa, a fim de que a dívida não seja executada e o contrato, renovado', diz a nota da assessoria de Severino.

'Frustrado em suas pretensões, procurou revistas semanais para tentar vender histórias sem fundamento, entre as quais a de que beneficiava o deputado Severino Cavalcanti com pagamentos em dinheiro.

' Entre as provas que Buani teria está um documento, pretensamente assinado pelo presidente da Câmara, que lhe asseguraria 5 anos de contrato. A nota de Severino não nega taxativamente sua existência, mas diz que nenhum documento desse tipo consta de qualquer processo da Casa. 'De qualquer maneira, não tem validade jurídica, já que os contratos da Casa são renovados anualmente.'

SEM DINHEIRO

O contrato assinado por Buani com a Câmara tem vigência até dia 14. Desde 2000 ele administrava o espaço do 10º andar, e sete restaurantes ou lanchonetes da Casa. Em 2004, a Câmara decidiu acabar com o monopólio e abriu licitações em separado. Buani ofereceu R$ 11.580 pelo aluguel do espaço do restaurante, valor mais alto entre os concorrentes, mas depois não teve dinheiro suficiente.

Em dezembro, ele parou de pagar o aluguel e passou a pressionar a direção da Câmara para que renegociasse a dívida e o contrato. 'Buani nunca obteve nenhuma benesse, e nunca fui procurado pelo presidente dizendo para aliviar a situação', afirmou o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio.

Segundo ele, desde que a inadimplência foi constatada, em janeiro, mais nenhum pagamento foi feito pela Câmara a Buani, por serviços prestados por ele. O crédito acumulado pela Câmara chegaria a R$ 25 mil, frente à dívida de R$ 150 mil dos aluguéis.

Os dados financeiros indicam que o último grande pagamento feito pela Câmara a Buani foi em 12 de janeiro, R$ 5.302,44.

Em 26 de abril, há um pequeno pagamento de R$ 325,25. Severino pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que a Polícia Federal abra inquérito sobre o caso.