Título: Agora Lula teme a superexposição
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai hoje a Natal, no Rio Grande do Norte, nem estará amanhã no estádio Mané Garrincha, em Brasília, para ver o jogo entre Brasil e Chile. O motivo, nos dois casos, é o mesmo: medo das vaias e hostilidades. No caso do jogo, a assessoria presidencial concluiu que em Brasília, cidade que abriga uma grande massa de servidores públicos irritados com o governo - e correligionários do governador Joaquim Roriz (PMDB), frontalmente contrários ao PT - o risco de vaias seria muito grande. No caso de Natal, a conclusão foi que uma visita à usina de reciclagem do projeto lixo e outra a obras da BR-304 não justificavam a viagem. Mas Lula manteve a ida a Angicos, no interior do Rio Grande do Norte, onde é mais fácil controlar os convidados. Ele participará de uma formatura de alunos do programa Brasil Alfabetizado.

Essa nova estratégia interrompe uma seqüência de visitas de Lula a 27 cidades, desde que estourou a crise política. A preocupação agora é com a superexposição do presidente.

A saída é selecionar com rigor os locais a serem visitados e evitar exibições públicas de sua rejeição. Uma das razões são os números de recentes pesquisas segundo as quais, apesar do seu esforço, a popularidade de Lula sofreu uma grande queda, até entre a população mais pobre e desinformada.

Está cancelada, também, a visita de amanhã a Belo Horizonte - onde, no último dia 8 de agosto, o presidente participou da abertura da Semana Nacional da Cidadania e Solidariedade. Ali, os petistas que estavam enfrentando os manifestantes do lado de fora do teatro Sesi foram convidados a participar da cerimônia. Nesta segundafeira, na capital mineira, Lula iria visitar um projeto educacional chamado Escolas Irmãs.

BLINDAGEM

Em todas as suas viagens o presidente Lula tem circulado por ambientes onde o público foi escolhido a dedo, graças a entendimentos entre a Secretaria Geral da Presidência e autoridades locais. Representantes de movimentos sociais e partidos que apóiam o governo sempre estiveram presentes, para garantir um clima amigável.

Ainda assim, sempre ocorrem pequenas manifestações contrárias nas cidades por onde Lula passa - nunca nos locais onde está.

È feita sempre rigorosa vistoria por ordem do cerimonial do Planalto, o que garante que não haverá faixas ou cartazes contra o governo.