Título: Esquerda prepara novo partido
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Nacional, p. A15

Parlamentares do Bloco de Esquerda Parlamentar, grupo dissidente do PT, por meio do deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), consultaram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a possibilidade de constituírem um novo partido político, sem passar pelas atuais exigências burocráticas da legislação partidária. A informação foi dada ontem por Biscaia, que contou ter feito a consulta em reunião na quarta-feira com o presidente da corte, ministro Carlos Velloso, que prometeu responder na próxima semana. O deputado disse que há um precedente: o PSDB, formado por uma dissidência do PMDB, em 1988. "Quem levantou pela primeira vez essa idéia foi o deputado Walter Pinheiro (PT-BA)", contou Biscaia. O caminho usual para constituir um novo partido político é complicado, exigindo a constituição de diretórios em certo número de municípios e Estados, o que, pela falta de tempo, inviabilizaria a iniciativa dos dissidentes. Se uma nova legenda puder ser constituída a partir dos parlamentares, poderá estar viabilizado um caminho para quem quer deixar o PT, mas no momento se vê sem alternativas próximas.

Embora haja deputados da esquerda petista dispostos a ingressar no PSOL da senadora Heloísa Helena (AL), muitos parlamentares resistem à idéia, por acharem a nova legenda muito radical. Também há dúvidas sobre a viabilidade eleitoral e até legal do novo partido, ainda à espera de seu registro definitivo na Justiça Eleitoral. E existe ainda um complicador: o Processo de Eleições Diretas (PED) da nova direção do PT, em 18 de setembro, no qual poderão votar todos os filiados ao partido e torna indefinido o quadro. A nova legenda seria a alternativa para quem quer sair do PT, mas não quer ir para o PSOL.

"Se houver chance de (Ricardo) Berzoini (candidato dos moderados à presidência do PT) ganhar e maioria do Campo Majoritário no Diretório Regional, estaremos sendo expulsos do PT", disse. A eleição para presidente é em dois turnos se ninguém tiver 50% dos votos mais um. O Campo Majoritário é o grupo de tendências moderadas, ligado ao governo, no comando da legenda desde 1995.

O parlamentar defendeu a tese de que os integrantes do BEP, formado originalmente por 21 parlamentares, tomem uma decisão unitária sobre seu novo destino partidário, no caso de perderem a eleição para a direção do atual partido. "Não é bom ir um para cada lado."

O deputado Chico Alencar (PT-RJ) disse que sua vontade é "continuar petista e que o PT seja recuperado, renascido das cinzas", mas reconheceu que há dificuldades. Ele afirmou que Heloísa Helena informou que o programa do PSOL é provisório e adiou seu primeiro Congresso para 2006. "Ela disse que seríamos bem-vindos", contou.