Título: PF pede à Justiça prisão de Maluf
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Nacional, p. A17

A Polícia Federal quer Paulo Maluf atrás das grades. Em dossiê de 1.214 páginas, que inclui transcrição de diálogos telefônicos mantidos pelo ex-prefeito em junho e julho, a PF sustenta que Maluf tem agido intensamente para destruir e ocultar provas relacionadas a uma investigação sobre depósitos que somam US$ 160 milhões em Nova York. A soma da qual Maluf é o maior beneficiário, segundo a PF, teria sido desviada dos cofres públicos de São Paulo. No último dia 28, a PF requereu à Justiça Federal decretação da prisão preventiva de Maluf, de seu filho mais velho, Flávio, e do ex-prefeito Celso Pitta. A PF quer fazer busca e apreensão na casa e nas empresas de Maluf e dos outros investigados. A Justiça ainda não autorizou. Aguarda parecer da Procuradoria da República.

"A liberdade dos representados (Maluf, Flávio e Pitta) oferece risco à tramitação da investigação, ante aos indícios e materialidade das ameaças e ofertas generosas em troca de falsos depoimentos ou ocultação de provas necessárias à conclusão do feito", destacou o delegado Protógenes Queiroz, que preside inquérito sobre evasão de divisas, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, corrupção e crime contra o sistema financeiro.

Segundo o delegado, os investigados causam "tramitação tormentosa do inquérito policial, tornando-se imprescindível a prisão". Queiroz anotou que "entre os crimes já indicados, alguns são considerados como de extrema gravidade e causadores de repulsa social, é inegável o tráfico de influência aliado ao poder de intimidação". O delegado revela estar impressionado com os métodos adotados por Maluf e os outros investigados. "Os indiciados pretendem prosseguir com sua atividade criminosa, visto que o material obtido com a vigilância eletrônica nos dá conta de que a intimidação pelo poder e força continua." A PF quer investigar operações realizadas pelos bancos Safra, BNC e Cidade e 4 empreiteiras.

Vivaldo Alves, doleiro conhecido por Birigüi, operador da conta Chanani - que captou recursos supostamente enviados por Maluf aos Estados Unidos - esmiuçou o esquema de remessas da família do ex-prefeito. A conta Chanani do Safra National Bank of New York foi encerrada em maio de 1999 e substituída pela Ugly River, que mais tarde - em 8 de junho de 2000 - deu lugar à conta Madson Hill Ventures Inc. "Todos os recursos creditados, debitados e movimentados foi por ordem de Flávio", declarou Birigüi. Flávio alega ter sido vítima de tentativa de extorsão do doleiro.

A PF indiciou criminalmente Maluf e seus filhos Flávio e Lígia Maluf Curi, além do genro do ex-prefeito, Maurílio Miguel Curi, e uma nora dele, Jacqueline Coutinho Torres Maluf. A PF obteve autorização judicial para fazer escuta de Maluf e de Flávio. Eles estão sendo monitorados há 3 meses. A PF filmou encontros de Flávio com o doleiro. Foram grampeadas ligações de Maluf e do filho com o doleiro e 4 advogados - um deles o procurador de Justiça aposentado, Sérgio Salgado Ivahy Badaró."As imagens e áudio dos encontros e contatos com os investigados fortalecem os indícios de crimes perpetrados pelos indiciados Paulo Maluf e Flávio, tal a tranqüilidade como se comportaram nos diálogos, caracterizados até por certo sentimento de poder e impunidade", ressaltou o delegado.

A assessoria do ex-prefeito atribuiu o pedido de prisão a "uma cortina de fumaça para desviar a atenção da sociedade brasileira sobre os escândalos que atualmente acontecem em Brasília". Adilson Laranjeira, assessor de imprensa de Maluf, divulgou nota: "Maluf sempre esteve e está à disposição de todas as autoridades para prestar esclarecimentos sobre qualquer assunto, nunca fugiu de suas responsabilidades."

Antenor Braido, assessor de Pitta, afirmou que o ex-prefeito considera absurdo o pedido de prisão. Ele anotou que Pitta não fala com Maluf desde 1999.