Título: Bush: 'O resultado da operação de emergência não é aceitável'
Autor: David Gonzalez
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Internacional, p. A18

Thomas Cobelin, aposentado de 75 anos, foi salvo das águas por um helicóptero na quarta-feira, depois de passar mais de 24 horas no telhado de sua casa inundada, em East New Orleans. Os espanhóis José Fuste, economista de 47 anos, a mulher dele e o filho de 18 anos, estavam visitando a cidade numa viagem de férias pelos EUA e deveriam voltar no sábado, mas com o cancelamento dos vôos acabaram presenciando o furacão Katrina no Hotel Monte Leon, no histórico bairro francês da cidade. Quatro dias depois da inundação e do furacão, que devastaram New Orleans, Cobelin, acompanhado por 11 membros de sua família, os Fustes e milhares de outros refugiados esperavam ser retirados da cidade em meio a uma indescritível imundície de lixo e excremento num acampamento improvisado sobre a Rodovia 10, que era o primeiro sinal do retorno de alguma ordem ao local. Para eles, a visita que o presidente George W. Bush programou fazer à cidade veio tarde demais para sanar as conseqüências do colossal fracasso da resposta à catástrofe. A ajuda, finalmente, começou a chegar ontem, em meio às pesadas críticas ao governo.

"É incompreensível que um país avançado como esse seja tão desorganizado, tão incompetente", disse Jose Fuste ao Estado. "Até agora não sabemos nem quando vamos sair daqui e nem para onde. Não só não tivemos ajuda, como as autoridades até atrapalharam." Segundo ele os donos do Monte Leon contrataram dez ônibus para retirá-los da cidade, pagando US$ 25 mil. "Mas os funcionários da Fema (a agência federal de emergências) confiscaram os ônibus", contou Fuste. Cansados e sob o barulho ensurdecedor dos helicópteros que vinham e partiam, muitos refugiados estavam próximos de perder o controle. "Nasci e cresci nesta cidade. Sempre tive orgulho, mas hoje eu não consigo dizer isso", disse Deborah Chairf, que perdeu sua casa e tudo que tinha.

A frustração era visível mesmo entre os policiais de New Orleans. Dentro de seus carros há quatro dias, dois deles disseram ao Estado que vários colegas haviam pedido demissão e devolvido seus distintivos depois de terem perdido suas casas e o contato com suas famílias. A deserção obviamente agravava a situação de anarquia criada em várias partes da cidade pelos saques que continuavam mesmo depois do horário previsto para a visita do presidente George W. Bush que prometera entre outras coisas, restabelecer a ordem. Bush admitiu que o resultado das operações de emergência "não eram aceitáveis". Os dois oficiais disseram ter ouvido rumores que o número dos mortos poderia já ter chegado a 25 mil.

Comboios de grandes caminhões militares, com alimentos, remédios e água potável começaram a chegar ontem à tarde, assim como parte do reforço de 24 mil homens prometido para estabilizar a situação de segurança e pôr fim aos saques. A governadora da Louisiana, Kathleen Blanco, advertiu aos saqueadores que os militares tinham ordens de atirar para matar.

Em Venice, península a 120 quilômetros de New Orleans, um vazamento de petróleo ameaçava ontem uma reserva natural. Dois tanques, com 2 milhões de barris de petróleo, foram danificados e o produto se espalhava pela área pantanosa. O local está inacessível e não há como estabelecer um plano de contenção, diz o porta-voz do Departamento de Meio Ambiente da Louisiana, Rodney Mallet (ler mais sobre os efeitos do Katrina no Caderno de Economia).