Título: Astrodome de Houston recebe 11 mil refugiados
Autor: David Gonzalez
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2005, Internacional, p. A18

Para Babe Williams, uma das 45 mil pessoas que, segundo estimativas, fugiram para Houston das devastações do furacão Katrina, o agora deteriorado Astrodome - que ontem relembrou seus tempos de glória quando foi aberto como uma das maravilhas do mundo há 40 anos - "é a casa de Deus". "Foi para cá que ele me enviou para fugir daquele demônio do Katrina", disse Williams, uma senhora de 65 anos que chegou pouco depois da meia-noite de quinta-feira com o marido Leonard, de 72 anos. Os Williams entraram num dos primeiros ônibus que chegaram aqui com refugiados do Superdome de Louisiana, agora mergulhado em condições insalubres, um calor asfixiante, telhado vazando, violência e escassez de água e comida.

Por sua proximidade de New Orleans - cerca de 560 quilômetros - Houston se tornou um centro para a recepção de refugiados, o que vem provocando fortes tensões nos recursos públicos e privados da cidade.

Sem mencionar o Superdome pelo nome, autoridades locais garantiram aos refugiados que as condições seriam diferentes no Astrodome. Pouco usado desde que a equipe de beisebol Houston Astros construiu um estádio novo há quatro anos, o Astrodome está fadado a se tornar um abrigo gigante para vítimas do Katrina.

No fim da tarde de ontem, ônibus foram desviados do Astrodome, que fechou suas portas depois de receber 11.325 refugiados, menos da metade dos 23 mil que ele poderia abrigar. As autoridades decidiram limitar o número de refugiados no Astrodome por causa de preocupações sobre a segurança e o controle da multidão em seu interior. Os funcionários municipais abriram outros dois centros gigantes em Houston para receber os refugiados que não paravam de chegar. "Vemos a tragédia pela qual New Orleans está passando e estamos fazendo o possível para que essa gente chegue a Houston e tenha um lugar decente para ficar", disse o prefeito Bill White.

Os refugiados no Astrodome falaram de pessoas se empurrando para obter lugar nos primeiros ônibus que saíram de New Orleans. Um ônibus foi comandado pelo pessoal em fuga e dirigido para cá. Outro motorista falou do seu medo de parar para pessoas que acenavam para ele temendo que quisessem assaltar o ônibus.

"Estávamos desesperados para sair, era tudo muito assustador", contou Jim Simpson, que fugiu com a esposa e a mãe. "O Katrina foi ruim, mas os criminosos saqueando seus vizinhos foi pior. Deixou-nos todos desesperados para ir para qualquer parte, qualquer parte."

Alguns ônibus pararam para recolher crianças que erravam sem rumo, sem os pais à vista.

Apesar de o abrigo do Astrodome ser o mais visível, há duas dezenas de outros abrigos administrados pela Cruz Vermelha em igrejas, escolas e outros locais em Houston.

Os moradores de New Orleans que tiveram a sorte de conservar seus carros e cartões de crédito, acomodaram-se nos hotéis de Houston, que registraram altas taxas de ocupação.

Para os refugiados no Astrodome, os funcionários do Condado de Harris estabeleceram uma clínica médica que estava realizando uma espécie de triagem, checando sinais de hepatite e tétano, ambas doenças relacionadas à água suja e à falta de higiene. Quinze pessoas foram levadas aos hospitais após serem examinadas no Astrodome.