Título: CNBB põe fim à confissão coletiva
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Vida&, p. A28

A confissão comunitária, celebração do sacramento da penitência na qual os católicos recebem a absolvição coletiva de seus pecados, vai ser definitivamente proibida em todas as paróquias. Em sua última assembléia-geral, reunida no mês passado em Itaici, no município de Indaiatuba (SP), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) decidiu que a confissão tem de ser individual. Mais ainda: os padres terão de providenciar confessionários tradicionais - com grades e em local visível - para ouvir os penitentes. A decisão da CNBB, que entrará em vigor após a aprovação do Vaticano, ao qual foi submetida, segue as orientações da carta apostólica Misericordia Dei (Pela misericórdia de Deus), publicada por João Paulo II em abril de 2002. No documento, o papa determinou que a absolvição coletiva só pode ser dada em casos excepcionais, quando há iminente perigo de morte ou quando não há sacerdotes em número suficiente para atender os fiéis. A autorização para a celebração comunitária depende do bispo, a quem cabe julgar as situações de excepcionalidade.

"As normas aprovadas pela CNBB encampam a nota pastoral sobre celebração do sacramento da reconciliação publicada, em outubro, pela Província Eclesiástica de São Paulo (arquidiocese de São Paulo e oito dioceses vizinhas)", informa d. Benedito Beni dos Santos, um dos bispos auxiliares do cardeal d. Cláudio Hummes. Com relação ao confessionário, as exigências são maiores: enquanto os bispos da região metropolitana da capital recomendam apenas que a confissão seja feita em local visível, a CNBB determina que os confessionários voltem a ter grades, como antigamente.

OBJEÇÕES

A discussão do tema levantou objeções no plenário da assembléia de Itaici, porque alguns bispos acharam que as normas baixadas por João Paulo II estavam sendo interpretadas muito ao pé da letra. "Dá a impressão de que somos mais guardas da misericórdia do que distribuidores", disse o bispo de Lins (SP), d. Irineu Danelon, depois de informar que sua diocese costuma celebrar a absolvição coletiva.

Lembrando a falta de sacerdotes para ouvir confissões, o bispo de Viana (MA), d. Xavier Gilles d¿Ableiges, argumentou que a interpretação da Misericordia Dei deve ser feita da maneira mais aberta possível. D. Sérgio Braschi, de Ponta Grossa (PR), lamentou que a CNBB estivesse apenas repetindo as orientações da carta apostólica, em vez de estabelecer normas específicas, de acordo com as realidades pastorais, como recomendou João Paulo II no documento.

Mesmo que recebam a absolvição simultânea, que já garante o perdão dos pecados, os fiéis continuam com a obrigação de fazer a confissão individual "dentro de um prazo razoável". Os bispos da Província Eclesiástica de São Paulo lembram, em sua nota pastoral, que "no caso da absolvição simultânea, a absolvição é apenas antecipada e a confissão é adiada para um momento possível". Além de terem o propósito de confessar individualmente, em tempo oportuno, os pecados graves, os penitentes devem fazer o ato de contrição ou "verdadeiro arrependimento dos pecados".

`ABUSO¿

Durante os debates na assembléia de Itaici, o arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, lembrou o comentário que o cardeal Joseph Ratzinger, atual papa Bento XVI, fez ao interpretar a carta apostólica Misericordia Dei. Na apresentação do documento, o então presidente da Congregação para a Doutri na da Fé afirmou que, ao ser "cada vez mais considerada uma forma normal do sacramento da penitência", a absolvição coletiva se tornou um "abuso que contribuiu para o progressivo desaparecimento desse sacramento em algumas partes da Igreja".

"A confissão tem de ser individual porque o padre precisa saber qual é o pecado que está absolvendo", disse d. Beni, em defesa da restauração do costume tradicional, segundo o qual cada penitente deve enumerar as suas culpas e manifestar arrependimento para receber a absolvição.

A Arquidiocese de São Paulo, informou o bispo, determinou que as paróquias cumpram as normas da nota pastoral sobre o sacramento da penitência, publicada no ano passado. "Se alguns padres continuam a fazer celebrações comunitárias sem autorização, estão desobedecendo à orientação oficial", advertiu.

D. Beni observou que a dificuldade ou a falta de sacerdotes para atender os fiéis no confessionário não são motivo para promover a confissão coletiva. "Quem não conseguir um padre numa igreja procure outra, pois São Paulo tem cerca de 280 paróquias e sempre haverá alguma com horários convenientes para a as confissões", aconselha. O maior problema para quem quer se confessar é que muitas igrejas marcam as confissões para os dias úteis, no horário comercial, quando as pessoas estão trabalhando.