Título: Dos tanques vem o conhecimento
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Vida&, p. A24

A maior parte do que se sabe sobre o peixe-boi amazônico vem de pesquisas realizadas no Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. Inaugurado em 1974, o centro mantém 32 peixes-boi em cativeiro - quase todos resgatados da natureza ainda filhotes, em estado grave de desnutrição. "Eles geralmente chegam aqui muito debilitados, por isso a taxa de mortalidade é alta", diz o veterinário Anselmo d¿Affonseca, responsável pelo laboratório. A equipe recebe entre cinco e dez peixes-boi por ano. Normalmente, os filhotes são órfãos de adultos mortos pelos ribeirinhos e que depois acabam sendo "adotados" como animais de estimação. Sem os cuidados adequados, entretanto, a maioria morre no cativeiro doméstico. Na última expedição do Projeto Peixe-Boi, os biólogos encontraram um filhote resgatado pelo Ibama de uma comunidade ribeirinha em Nhamundá (AM). O animal, debilitado, recebeu atendimento na embarcação, mas acabou morrendo antes que pudesse ser embarcado para Manaus.

A reprodução do peixe-boi amazônico é lenta: apenas um filhote a cada três anos ou mais. Apesar do nome, o animal é um mamífero. Totalmente herbívoro, ele nasce com 10 a 15 quilos e só deixa de mamar depois de dois anos. "O leite do peixe-boi tem características muito especiais", explica d¿Affonseca. "Sem uma dieta artificial muito boa, o animal dificilmente sobreviverá." Adultos podem pesar mais de 400 quilos.

Quatro filhotes saudáveis já nasceram por reprodução em cativeiro no Inpa desde 1998, mais um outro no Centro de Preservação e Proteção de Mamíferos Aquáticos de Balbina, que é mantido pela Eletronorte e cuida de outros 30 peixes-boi.

DEPENDÊNCIA

Os animais não são devolvidos a natureza, por causa da dificuldade que teriam para sobreviver. "Como todos chegam aqui filhotes, eles não sabem se alimentar sozinhos. Se a gente solta, eles morrem de fome", explica d¿Affonseca. E como não estão acostumados a ver o homem como inimigo, seriam alvos fáceis para os caçadores. "Mesmo que a gente fizesse a reintrodução em uma área protegida, os rios não possuem cercas. É muito provável que eles seriam caçados."

A solução, portanto, é mantê-los nos tanques do LMA e tentar aprender um pouco mais sobre eles. Segundo d¿Affonseca, mais de 90% do conhecimento científico sobre a espécie vem dos estudos em cativeiro do Inpa. Alguns experimentos já foram feitos na natureza com o uso de radiotransmissores, mas com sucesso limitado. O último filhote do Inpa (uma fêmea) nasceu no dia 6 de abril. Uma campanha foi criada para dar nome ao bicho pelo site www.inpa.gov.br.