Título: Schroeder trava hoje debate decisivo
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Internacional, p. A23

PARIS - O chanceler alemão, Gerhard Schroeder, já começa a admitir a possibilidade de derrota de seu Partido Social-Democrata (SPD) nas eleições de 18 de setembro, ao denunciar a seus partidários durante a campanha eleitoral que a oposição conservadora se prepara para instalar uma "sociedade fria e sem alma", fortemente desconectada da realidade internacional, onde não haverá espaço para "a solidariedade e justiça social". Uma política mais austera ainda poderá ser implantada pela líder da União Democrata-Cristã (CDU), Angela Merkel, que costuma comparar a situação econômica alemã atual à da reconstrução do país após a 2.ª Guerra. A noite de hoje será decisiva, talvez a ultima ocasião para Schroeder inverter a tendência desfavorável para seu partido. Ele enfrenta Merkel no único debate na TV entre os dois. O talento de orador do chanceler é superior ao da dirigente opositora, mas será isso suficiente para convencer 40% da população ainda indecisa, segundo as pesquisas? Difícil, respondem os observadores alemães. Os resultados das pesquisas de opinião dos principais institutos parecem se consolidar, mantendo a aliança de oposição liderada pela CDU na liderança com uma ampla diferença, que tem variado entre 10 e 12 pontos. Nem a vigorosa campanha do SPD nas últimas semanas tem conseguido modificar essa tendência. Isso apesar das tímidas indicações de melhoria da situação econômica, do início de uma curva descendente de desemprego (menos 40 mil desempregados em julho). À espera de uma confirmação dessa tendência. 62% do empresariado alemão tem manifestado sua confiança em Angela Merkel.

Por enquanto, os dirigentes da CDU se mostram prudentes em relação a medidas de caráter econômico, evitando atemorizar seus eleitores com o anúncio de reformas mais profundas, mas já se prevê a adoção de um liberalismo sem concessões, um programa que prevê uma ruptura completa com o programa social-democrata de reformas, reduzindo ainda mais o papel do chamado "Estado assistencialista." Eles se dispõem também, se necessário, a inaugurar uma política de confronto com os sindicatos. A CDU terá de enfrentar, porém, a oposição de seus aliados liberais sobre alguns itens do programa econômico e político. Por exemplo, o aumento do imposto sobre valor agregado (de 16% para 18 %). Outro tema polêmico é o ingresso da Turquia na União Européia, apoiado pelos liberais e contestado pela CDU.

Essa nova política será inspirada pelas teses de Paul Kirchhof, cuja escolha já foi antecipada para o Ministério das Finanças, no caso de vitória. Esse professor universitário conservador é adepto de uma alíquota única de 25% de imposto sobre todas as faixas salariais, além da supressão dos 418 abatimentos legais já existentes. Como a informação dessa iniciativa impopular vazou, Angela Merkel admite hoje que ela poderá ser transferida para a outra legislatura, a partir de 2009, diante da forte hostilidade da maioria.

Quanto ao Partido da Esquerda , com 8% das intenções de voto nas pesquisas (após ter chegado a 13%), o namoro se desenvolve com os sindicatos, aproveitando a má relação atual mantida pela social-democracia com os movimentos sindicais, irritados com a política de reformas anti-sociais do governo Schroeder. O objetivo é conquistar os votos dos sindicalistas que ainda permanecem fiéis ao SPD.

Um ex - ministro do trabalho de Schroeder, Walter Riester, antigo dirigente da IG Metall, tem criticado o Partido da Esquerda de Oskar Lafontaine, afirmando que ele "não constitui uma alternativa séria para o país". Lafontaine é alvo de críticas ferozes mesmo entre seus partidários da esquerda, principalmente após ter abandonado a campanha eleitoral em agosto e viajado para Maiorca, onde passou férias com a família numa mansão.

Schroeder , mais do que nunca, queima seus últimos cartuchos, mas já sem a mesma esperança de poder virar o jogo no ultimo momento. As primeiras fissuras na aliança entre social-democratas e os verdes, responsável pela maioria que governou o país nos últimos sete anos, estão se tornando cada vez mais visíveis, principalmente quando se debate a possibilidade da constituição de uma eventual nova coalizão, com a participação de outros partidos.