Título: Amigos, amigos, eleições à parte
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Nacional, p. A6

Os movimentos de aproximação entre o PMDB e o PFL não visam, pelo menos por ora, a uma aliança eleitoral para a disputa da Presidência da República em 2006. Ambos querem concorrer com candidatos próprios, já estão convictos de que o presidente Luiz Inácio da Silva está fora do páreo e enxergam no PSDB a maior ameaça a seus planos de pelo menos terem um bom desempenho, senão no resultado final, pelo menos como forças competitivas durante a campanha.

Foi esse, e não a formação de uma chapa conjunta, o teor da conversa que reuniu na semana passada dirigentes desses partidos em Brasília. Eles acham que se não se mexerem, os tucanos vão mesmo consolidar a posição de preferência perante o eleitorado como contraponto ao PT, recolhendo o espólio eleitoral dos infortúnios petistas.

O ideal mesmo, em termos de crise, na visão de pemedebistas e pefelistas, seria que os fatos permitissem a interrupção do mandato do presidente Lula. Evidentemente nada podem fazer para provocar essa situação, mas torcem por ela, fazendo a seguinte análise: a permanência do PT, mesmo enfraquecido, no poder, favorece o PSDB, porque o partido faz, perante a opinião pública, o papel de força oposta.

Se Lula sai do cenário de uma vez, acreditam, os tucanos como conseqüência também perdem vigor, deixam de representar a alternativa.

Nesse quadro, ocorreria uma espécie de zero a zero geral e partidos como o PFL e o PSDB passariam a ter chance de sucesso. Por isso, imaginam, os tucanos farão de tudo e mais um pouco para circunscrever a crise a distância segura de uma fatalidade para Lula.

Como esse é apenas um raciocínio hipotético e remoto nas atuais circunstâncias, pefelistas e pemedebistas tratam de unir esforços para enfrentar, dentro do calendário normal, a supremacia do PSDB e evitar que a situação se cristalize ao ponto de tirá-los da competição, forçando a repetição da aliança - formal com o PFL, tácita no caso do PMDB - que elegeu Fernando Henrique Cardoso duas vezes.

O primordial para os dois partidos não é atacar o PSDB - o adversário principal ainda é Lula -, mas não deixá-lo navegar sozinho e evitar a impressão de que são ambos meros anexos eleitorais.

Como ações de visibilidade, se não estiverem pautadas pela agenda do escândalo, só têm repercussão se referidas na disputa presidencial, pefelistas e pemedebistas se movimentam na dinâmica de 2006 enquanto aguardam o desfecho da crise que, para eles, do ponto de vista eleitoral está resolvida no tocante ao PT.

Por isso, falam tanto em candidaturas e deixam até prosperar as versões de uma coligação por ora inexistente.

Último caso

Dentro do PMDB quem está sofrendo um legítimo ataque especulativo é Anthony Garotinho, o único pré-candidato a aparecer nas pesquisas de opinião.

Como dizem os tucanos a respeito do bom desempenho de José Serra nessas pesquisas, os pemedebistas atribuem os porcentuais do ex-governador do Rio de Janeiro aos efeitos da disputa de 2002, na qual Garotinho ficou em terceiro lugar.

Cresce dentro do PMDB a convicção de que ele não terá apoio interno nem força externa para se tornar um candidato viável. A ala governista ainda não manifestou preferência por ninguém, mas entre os oposicionistas há articulações fortes em defesa do nome do presidente do Supremo Tribunal Federal e agora começa a se organizar um grupo em torno do governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos. Ambos conferem prioridade entre si e admitem apoiar Garotinho, mas, para usar expressão de um controlador de naco importante da máquina pemedebista, "só em último caso".

Se todos fossem...

Compras no Palácio do Planalto por meio de notas frias, diferentemente do caixa 2 de campanha, o PT há de convir, é uma inovação no tocante ao modo petista de governar.

Mas, se algo de positivo é possível destacar, trata-se da celeridade da investigação interna conduzida pela Casa Civil, que não tergiversou: confirmou a infração denunciada pelo senador Álvaro Dias e divulgou de pronto o fato.

É a segunda vez, em pouco tempo, que a ministra Dilma Rousseff age em favor da combalida imagem do governo. A primeira foi quando impediu a nomeação de um servidor sob investigação para a presidência da Infraero.

Lula recuou da indicação e manteve Carlos Wilson no posto.

(In) Satisfação

Quando as coisas andam mal, nem as formalidades diplomáticas são bem recebidas. Foi assim, na base da inconformidade total, que se manifestaram diversos leitores a respeito da condecoração do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, com a Ordem do Rio Branco.

Também não é para tanto. A comenda foi entregue na ocasião a outras 139 pessoas que, como Severino, não necessariamente realizaram "grandes feitos" em prol da Nação. Ele recebeu em função do cargo que ocupa, conquistado dentro da lei, não obstante em ambiente de desordem.