Título: Descontentes preparam debandada
Autor: João Domingos e Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - Um grupo de pelo menos seis deputados e três senadores pode deixar o PT logo depois das eleições internas do partido, marcadas para o dia 18. Caso o Campo Majoritário (que hoje manda no PT) vença a disputa, a maioria dessa turma migrará para o PSOL da senadora Heloísa Helena (AL), PDT ou mesmo para o PSB. O prazo para os que desejam se candidatar no ano que vem trocarem de legenda termina em 30 de setembro. O deputado André Costa (RJ) inaugurou a debandada, ao deixar o PT na segunda-feira. O próximo a sair é João Alfredo (CE), que está no primeiro mandato de deputado federal. "Por mim, já teria saído, mas tenho um compromisso com meus companheiros de aguardar a eleição para o Diretório Nacional, porque outros podem deixar o PT", disse Alfredo. "Não tenho ambiente no PT. Esta enrascada, em que o partido desmoraliza a ética e a moral, foi a gota d¿água para minha decisão de sair." E diz porque: "Não posso aceitar a política econômica ultraortodoxa adotada pelo governo, que destinou R$ 450 bilhões para o pagamento de juros desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu. Para a educação, no mesmo período, o governo destinou apenas R$ 45 bilhões, ou 10% do que foi para a dívida."

Alfredo também lembrou que "o PT do Ceará ficou muito ferido com a atitude da direção nacional, que apoiava Inácio Arruda, do PCdoB, e fez uma intervenção branca na legenda local para atrapalhar a eleição de Luizianne Lins para a prefeitura de Fortaleza. A manobra não deu certo e Luizianne venceu".

CHANCES

Também pensam em deixar o PT, depois da eleição do Diretório Nacional, os deputados Chico Alencar (RJ), Ivan Valente (SP), Maria José Maninha (DF), Nazareno Fonteles (PI) e Walter Pinheiro (BA). Acham que, com a crise, as tendências independentes ou mais à esquerda têm condições de vencer o Campo Majoritário. "O PT vive a maior crise de nossa história", disse Chico Alencar. "Dilapidaram nosso patrimônio ético e moral. Só uma radicalização da direção que for eleita no dia 18 pode mudar os rumos do partido." Para ele, o PT conquistou a sociedade quando se identificou com lutas como as das mulheres, dos negros, dos índios, dos homossexuais, dos pobres e pela preservação do meio ambiente. "Foi uma revolução nos costumes políticos. Nós fugimos da ortodoxia leninista, do autoritarismo da revolução chinesa, mas veio aí uma turma e pôs tudo a perder." Para o deputado Ivan Valente, o PT foi a maior experiência da classe trabalhadora no século 20, o que levou o partido a estabelecer uma marca no mundo. "Mas, irresponsavelmente, a direção partidária cometeu graves deslizes e comprometeu todo o projeto", disse. "Isso ocorreu porque a direção foi autoritária e apoiou uma política econômica equivocada que desperdiçou a energia obtida com a eleição do presidente Lula. Por isso mesmo, a direção que deixou o PT recentemente vai pagar caro diante da história por sua irresponsabilidade."

Para o deputado paulista, os descontentes deveriam formar uma entidade, que poderia se denominar Movimento pelo Socialismo. Numa eventual vitória do Campo Majoritário para a direção petista, procuraria abrigo provisório em alguma legenda, para cumprir o prazo obrigatório de mudar de partido até o dia 30. O partido, segundo Valente, poderia ser o PSOL, o PSB ou o PDT: "Cumpriríamos as normas eleitorais e teríamos tempo para decidir se ficamos nesse ou naquele partido."

A movimentação dos petistas é observada à distância pelo secretário-geral da legenda, Ricardo Berzoini (SP), candidato do Campo Majoritário à presidência do PT. "Tenho dito para todo mundo que ninguém vai encontrar um partido mais democrático e uma marca melhor do que o PT", disse. "Acho estranha essa tática de largar o partido se houver a vitória do Campo Majoritário. Isso não é debate político, é uma posição equivocada", afirmou Berzoini que não deu como certa a saída de André Costa