Título: No Dia da Pátria, grito contra pizza e corrupção
Autor: Guilherme Evelin e Fabiano Rampazzo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Nacional, p. A12

A crise política vai desfilar na parada de 7 de Setembro. Sob o signo do mensalão, aliados e adversários do governo Lula ou simples cidadãos descrentes do sistema político vão aproveitar a data da Independência para levar às ruas a discussão sobre as denúncias que abalaram o Palácio do Planalto e o PT. Os organizadores das manifestações, pertencentes a grupos, movimentos sociais e sindicais de todos os matizes ideológicos, pretendem levar mais de 2 milhões de pessoas para as ruas. O início dos protestos será na véspera do feriado, na Praça da Sé, em São Paulo. Sob comando da Força Sindical e com participação de mais 40 entidades, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Movimento pela Legalidade, contra o Arbítrio e a Corrupção quer atrair 10 mil pessoas para o ato "Corrupção Zero. Eu quero a verdade". Estarão na manifestação opositores ao governo, como os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e Roberto Freire (PPS-PE) e o senador Cristovam Buarque (DF), que deixou o PT.

O fim da impunidade vai ser pedido, mas o presidente Lula será poupado nos atos conjuntos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), pastorais sociais da Igreja Católica e Movimento dos Sem-Terra (MST). Não haverá pedidos de impeachment no 11.º Grito dos Excluídos. "O foco principal é a exigência de mudanças na política econômica. Os problemas que o governo enfrenta decorrem da manutenção do modelo econômico neoliberal que Lula não teve coragem de mudar", diz João Pedro Stédile, do MST.

Dissidentes da CUT, hoje na Coordenação Nacional de Lutas, não deixarão de fustigar a corrupção no governo. Em São José dos Campos, o Sindicato dos Metalúrgicos quer reeditar a "quadrilha do mensalão" e levará às ruas militantes vestidos de presidiários e com máscaras de políticos denunciados, além de uma pizza gigante de papelão com o rosto de Lula.

INDEPENDENTES

As manifestações não partem só de movimentos organizados. A crise fez surgir inúmeros grupos que se dizem sem filiação partidária e apenas querem fazer ecoar sua indignação. Com a internet como meio de propaganda, os grupos têm se arregimentado para se fazer ouvir na quarta-feira por todo o País.

O carioca Felipe Gonçalves Oliveira criou um site (www.estaeahora.cjb.net) e, por mensagens eletrônicas, chama para um "panelaço" de um minuto, a partir das 17 horas, na Praça da Candelária, no Rio. "O movimento é contra a corrupção no governo Lula e a favor da reforma política", diz Felipe.

O consultor comercial Samuel Santos criou também um site e o Movimento Reforma Já para pedir mudanças nas regras eleitorais. A idéia surgiu durante uma festa de aniversário na qual a crise política era discutida. Outros grupos se incorporaram ao movimento, que organizou uma passeata na Avenida Paulista, com direito a trio elétrico e comício. "Não aceitamos políticos no palanque. É uma manifestação de cidadãos. Queremos mudanças, ou vamos pregar voto nulo."

A designer gráfica Carolina Araújo comanda outro grupo que vai protestar na Paulista. Ela criou um site com o slogan "Queremos tudo em pratos limpos", que faz alusão ao Programa Fome Zero. "É uma tentativa de tirar a população da apatia", diz Carolina. A iniciativa da designer conseguiu adesões em vários Estados - seu movimento terá passeata em Goiânia.