Título: Queda dos índices é generalizada
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

Há uma enxurrada de índices negativos de custo de vida apurados por diferentes institutos de pesquisas que não deixam dúvidas sobre a tendência de queda da inflação. Só na última semana vários indicadores bateram recordes de baixa. O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) de agosto fechou com deflação de 0,65%, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi o menor resultado em mais de dois anos e o quarto mês seguido que o índice registrou deflação. "Uma seqüência de quatro deflações nunca havia ocorrido antes com o IGP-M", afirma o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. Ele observa que, no máximo, o IGP-M ficou negativo por três meses consecutivos, de maio a julho de 2003. O recuo acumulado do índice nos dois períodos é quase equivalente. Entre maio e julho de 2003 a queda foi de 1,67% e entre maio e agosto deste ano, de 1,64%. O economista pondera, no entanto, que a natureza da retração dos preços é diferente entre os dois períodos. Em 2003 foi provocada apenas pela valorização do real ante o dólar. Neste ano, o pano de fundo é o mesmo, mas cada vez mais esse fator perde força.

Quadros argumenta que fatores que dizem respeito à demanda e oferta de cada item ganharam mais relevância. Ele cita como exemplo o caso do aço, tido como vilão da inflação no início deste ano. Os preços já caíram 2,76% de janeiro a agosto. "Os preços recuaram mais de 10% no mercado internacional e há excesso de oferta." A história se repete no caso da carne bovina, com a arroba na menor marca dos últimos três anos.

Outra diferença da deflação deste ano captada pelo IGP-M é que pela primeira vez, desde dezembro de 1998, o Índice de Preços ao Consumidor de Mercado (IPC-M), que responde por 30% do IGP-M, também teve deflação, acompanhando o índice geral. "Em 2003, quando o IGP-M teve deflação, o IPC-M não ficou negativo", diz Quadros.

Ele observa que o repasse da queda de preços para o varejo ocorre neste ano de forma mais intensa. O motivo, segundo o economista, é que a queda de preços atinge vários itens que compõem o indicador. "A deflação está mais espalhada e chegando ao consumidor." Uma prova disso é que o Índice de Preços Semanal (IPC-S), também da FGV, que mede a variação dos preços no varejo, atingiu em agosto a menor marca da História (-0,44%) e a segunda variação negativa consecutiva. Até mesmo o Custo Unitário Básico (CUB) da construção civil, calculado pelo Sinduscon-SP e que mede os preços do setor, recuou 0,40% em agosto. Desde junho de 1999 o índice não acusava deflação, que foi provocada pelo cimento e aço.

Mas o motor da deflação continua sendo os alimentos. Por dez quadrissemanas consecutivas os alimentos registraram variação negativa no Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe). Na terceira quadrissemana de agosto, enquanto o índice geral recuou 0,04%, a comida ficou 0,96% mais barata. "Temos neste ano uma boa oferta agrícola em plena entressafra. É âncora verde funcionando", afirma o coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti.