Título: 'BC deve ser mais agressivo'
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

O próximo item da agenda econômica do Brasil deve ser a redução dos juros, porque estão muito acima dos do resto do mundo. Essa é a opinião de Leonardo Leiderman, um dos pioneiros do regime de metas de inflação no mundo. "O Banco Central (BC) brasileiro deve ser mais agressivo e reduzir as taxas de juros", disse o economista ao Estado. "É arriscado reduzir os juros, mas também é muito perigoso não reduzir." Leiderman ajudou a implantar o regime de metas em Israel, em 1992, quando era vice-presidente do banco central israelense. Hoje, ele é professor titular da Universidade de Tel-Aviv e economista-chefe do banco Hapoalim, o maior de Israel.

Para o economista, caso o BC não reduza as taxas de juros em breve, a instituição corre o risco de, daqui a dois anos, perceber que "a política monetária foi restritiva demais e teve impacto grande sobre os investimentos." O elemento mais importante, que aponta para a possibilidade de corte de juros, na opinião de Leiderman, é a queda das expectativas de inflação.

Segundo o último relatório Focus, a projeção do mercado para o IPCA em 2005 caiu de 5,26% para 5,23%, mais próximo da meta de 5,1% do governo. Foi a 16ª semana consecutiva de redução da estimativa.

O economista defende o regime como instrumento eficaz de redução da inflação. Ele não acha que, necessariamente, o cumprimento das metas leva ao sacrifício do crescimento. "Nenhum país que adotou o regime de metas o abandonou ou está pensando em abandoná-lo", diz.

O primeiro país a adotar o regime de metas foi a Nova Zelândia, em 1989. Israel aderiu ao regime em 1992. Outros países que adotam o regime são: Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, República Tcheca, Islândia, Coréia, México, Noruega, Polônia, África do Sul, Suécia, Grã-Bretanha, Hungria, Tailândia e Peru.

Leiderman esteve em São Paulo durante um dia e meio. A cidade foi a última escala de seu giro pela América do Sul, que incluiu Argentina e Chile. O economista veio avaliar oportunidades de investimentos. "Cresceu muito o interesse de fundos de pensão israelenses por ações e títulos da América Latina."

Leiderman acredita que existe um novo paradigma para a economia mundial. Ele afirma que o interesse dos investidores por países como o Brasil não é "cíclico" nem "especulativo" desta vez. Nem acha que o boom de investimentos no País seja apenas mais um ciclo que vai acabar, trazendo crise, como no passado.

Para ele, o robusto crescimento mundial, de cerca de 4% ao ano, vai persistir até o fim da década. Com isso, as taxas de juros reais do mundo, atualmente em cerca de 2%, devem continuar muito baixas. Mesmo que o Fed (BC americano) continue elevando as taxas dos EUA, a elevação será muito gradual.

"O volume de poupança no mundo hoje é o maior das últimas duas décadas", diz. Com isso, há um grande volume de recursos em busca de investimentos com retorno maior - como papéis dos países emergentes. "Houve uma mudança de paradigma porque todos os países, inclusive os emergentes, melhoraram as políticas macroeconômicas e estão mais estáveis", diz. Os capitais que se dirigem hoje para os emergentes serão um fenômeno mais persistente.

"Não se trata de mais uma onda de capitais especulativos; é um ajuste permanente no portfólio", diz. "Sob esse novo paradigma, ataques terroristas como o de Londres, desastres naturais como o Katrina e crises políticas como a brasileira não abalam muito os mercados. Tudo isso aconteceu e as bolsas continuaram subindo."