Título: Remoção poderia ter sido mais eficaz
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Internacional, p. A10

Os mais de 5 mil refugiados do furacão Katrina que estão no River Center, em Baton Rouge, a capital de Louisiana, a 80 quilômetros de New Orleans, dormem juntos em camas de armar e não vêem a hora de deixar o lugar. Mas poucos reclamam do tratamento que vêm recebendo da Cruz Vermelha. Apesar da falta de privacidade, eles têm comida e água. O lugar é limpo, organizado, tem ar condicionado, segurança e áreas de recreação. Médicos, enfermeiros e psicólogos dão assistência. Os voluntários da Cruz Vermelha separam e distribuem roupas doadas, ajudam os refugiados a localizar parentes e amigos ou simplesmente conversam com eles. Com essa ajuda, André Cristophe, que trabalhava como chef em um restaurante de Nova Orleans, conseguiu contatar ontem a família da mulher, Keyonte. Ele aguardava apenas a entrega de um dinheiro pelo governo federal para transporte para iniciar a longa viagem de ônibus até a casa dos sogros, no interior do Estado da Georgia. "Minha casa fica numa área inundada. Perdi tudo, estou muito deprimido, mas não tenho do que reclamar do tratamento que recebi desde que cheguei aqui com minha família, terça-feira", disse Christophe ao Estado, balançando nas pernas o casal de filhos gêmeos, de 2 anos, Diandre e Andrea.

Um dos primeiros a chegar, por iniciativa própria, Christophe contou que os dois primeiros dias foram difíceis. Baton Rouge não tinha se preparado para receber refugiados. "Mas estou aliviado porque os problemas que tivemos não se comparam com os que muitos dos que estão aqui passaram no Superdome e no Centro de Convenções de New Orleans."

A experiência de Christophe mostra que o desastre causado pela remoção tardia e caótica das pessoas que não tiveram meios de deixar New Orleans antes do furacão poderia ter sido bastante reduzido - se as autoridades tivessem agido a tempo com base na informação, disponível desde sábado, de que um furacão catástrófico, rumava para a região. Segundo a AP, Michael Brown, responsável pela agência que administra catástrofes naturais, Fema, esperou quatro horas depois da passagem do devastador furacão para mandar um memorando propondo a mobilização de meros mil funcionários, por dois dias, para ajudar no socorro.

Os mais de 220 mil refugiados representam um problema logístico novo para a Cruz Vermelha, os governos que os acolheram e a administração federal. A Cruz Vermelha admite que deslocamento é um fenômeno de uma escala com a qual nunca lidaram e terão que aprender fazendo.