Título: Água poluída é nova causa de mortes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Internacional, p. A10

Pelo menos cinco mortes registradas nos últimos dias em New Orleans podem ter sido causadas por infecções bacterianas, segundo autoridades sanitárias americanas. Um estudo conduzido pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) confirmou ontem que as águas que ainda cobrem 80% da cidade contêm elevados níveis de bactérias, pelo menos dez vezes mais acima do tolerável - que podem aprofundar a dimensão da tragédia causada pela passagem do furacão Katrina, no dia 29 (ver quadro ao lado). Ante o temor de uma epidemia, o prefeito de New Orleans, Ray Nagin, ordenou a retirada total dos estimados 10 mil habitantes que se negam a deixar suas casas. Ontem, policiais, bombeiros e membros da Guarda Nacional começaram a executar a operação de remoção. "Essas pessoas não compreendem a situação de risco a que estão se expondo", declarou o chefe de polícia Edwin Compass. "Vamos retirá-los com ou sem a cooperação deles."

"Pode levar semanas até que seja possível beber água", disse a diretora do Centro de Prevenção e Controle de Doenças, Julie Geberding. Além das cinco mortes em New Orleans, o centro registrou pelo menos três mortes no Mississippi e outra no Texas pela contaminação de um tipo de vibrião da cólera.

Fechados os diques cuja ruptura inundou a cidade, imensas bombas já começaram a drenar New Orleans, numa operação que deve se estender por pelo menos três meses. Segundo testemunhas ouvidas pela mídia americana, a previsão de Nagin de que até 10 mil mortes sejam registradas quando as águas finalmente baixarem parece realista. Entre 25 e 30 cadáveres foram encontrados ontem num asilo para idosos da periferia da cidade, segundo informou a rede de TV CNN.

A quase totalidade dos 500 mil habitantes de New Orleans está refugiada em casa de parentes ou em centros abertos em outros Estados. O Departamento de Segurança Interna detalhou ontem o plano de distribuição de cartões com US$ 2 mil de crédito para cada adulto obrigado a deixar sua casa por causa do furacão.

O presidente americano, George W. Bush, prepara o envio ao Congresso de um pedido de suplementação orçamentária de US$ 51,8 bilhões. Na semana passada, o Congresso havia aprovado uma verba de emergência de US$ 10,5 bilhões.