Título: No 7 de Setembro da crise, festa de pouca emoção e vaias para Lula
Autor: Tânia Monteiro e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Nacional, p. A4

As comemorações do Dia da Pátria concorridas e cheias de atrações inventadas pelo publicitário Duda Mendonça ficaram para trás. Cercado pela crise política que se agrava a cada dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assistiu ontem a um desfile de 7 de Setembro esvaziado, ouviu vaias e aplausos e passou duas horas e meia em um palanque cheio de ministros, mas carente de amigos, parentes e parlamentares. O público, estimado pela Polícia Militar, ficou entre 25 mil e 30 mil pessoas. Na melhor das hipóteses, foi a metade dos 60 mil que, no ano passado, aplaudiram com entusiasmo estrelas como o maratonista Vanderlei Cordeiro. Em 2004, o atleta-revelação das Olimpíadas abriu o desfile e assistiu à festa na tribuna de honra. Lula, com a faixa presidencial, chegou ao palanque às 9 horas, depois de desfilar em carro aberto ao lado da primeira-dama, Marisa, vestida de tailleur verde-bandeira e uma echarpe amarela. O casal levou um susto quando o Rolls Royce parou. A haste de metal que o presidente e a primeira-dama seguravam quebrou. Ambos deram um pulo para frente, mas não caíram. Recompostos, desceram do carro e seguiram em frente.

O presidente ouviu mais aplausos do que vaias, porque a arquibancada em frente ao palanque reservado para ele estava ocupada por dezenas de petistas gritando palavras de ordem e usando faixas vermelhas com o nome do presidente amarradas na cabeça. Os contras estavam mais afastados, mas também eram barulhentos. Alguns levaram cartazes e bandeiras pretas com a inscrição "impeachment".

Depois de alguns acenos discretos, Lula subiu ao palanque, onde o aguardavam mais de 20 ministros e apenas 3 parlamentares: os deputados petistas Sigmaringa Seixas (DF), Vicentinho (SP) e Paulo Delgado (MG). Até a chegada do presidente, a grande atração da tribuna era o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. Aliado do presidente neste momento de crise, Jobim foi cercado por vários ministros e, como chefe do Judiciário, sentou-se na primeira fila, ao lado de Marisa. À direita de Lula, estava o presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo.

PESO

Com 9 pontos percentuais a menos de avaliação positiva em comparação com setembro do ano passado (eram 38% de bom e ótimo, hoje são 29%) e 12 pontos a mais de rejeição (31% ante 19% de setembro passado), segundo o Ibope, Lula sentiu o peso das dificuldades políticas, mas procurou demonstrar descontração e simpatia. Conversou, aplaudiu, riu das estripulias da Esquadrilha da Fumaça e posou para fotos.

A ausência do publicitário Duda Mendonça foi sentida não só no palanque, mas no desfile. Duda está afastado do presidente desde que confessou ter recebido parte dos serviços prestados ao PT na campanha de 2002 com dinheiro ilegal remetido para uma conta no paraíso fiscal das Bahamas. Ao contrário dos dois anos anteriores, o que se viu ontem foi uma parada burocrática, numa sucessão de alunos, bandas, carros, tanques, motos, cachorros e cavalos. Muito distante da apresentação do ano passado, em que predominou o tom ufanista, reflexo da campanha "o melhor do Brasil é o brasileiro". Este ano, o slogan oficial era bem mais modesto: "7 de Setembro, dia de todos os brasileiros e brasileiras."

Às 11h20, enquanto a Esquadrilha da Fumaça fazia as últimas piruetas, Lula e Marisa foram embora. Rápidos e discretos, ministros como Antonio Palocci, Jaques Wagner e Luiz Dulci deixaram a cerimônia.

Jobim saiu em seguida, sem dar entrevista. Entre as poucas autoridades que atenderam à imprensa, estava o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Questionado sobre a paralisia do governo, parecia ter ouvido outra pergunta. "Acho que o desfile este ano incorporou uma primeira parte com a participação cidadã, nossas etnias, nossas variedades e a segunda parte, com o desfile militar", respondeu.