Título: Excluídos gritam contra corrupção
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Nacional, p. A5

Cerca de 90 mil romeiros de todo o País passaram ontem pelo Santuário de Nossa Senhora Aparecida, o maior centro de peregrinação católica do País. Desse conjunto, cerca de 5 mil foram pedir especialmente à padroeira que livre o Brasil dos males da corrupção, da falta de ética na política e da desigualdade social. Eram os participantes da Romaria dos Trabalhadores e do Grito dos Excluídos, manifestações organizadas pelas pastorais sociais da Igreja, por meio das comunidades eclesiais de base (CEBs), com o apoio do Movimento dos Sem-Terra (MST) e a colaboração da Central Única dos Trabalhadores (CUT). No ato que realizaram pela manhã no pátio da basílica, os manifestantes gritaram: "Basta de corrupção. Punição, ética, transparência - é o que nós queremos." Também bradaram contra a política econômica e o neoliberalismo. Depois juntaram-se aos outros romeiros para assistir à missa celebrada pelo arcebispo de Aparecida, d. Raymundo Damasceno, que em sua homilia retomou o tema político. "O País vive um momento crítico de caráter ético e moral", disse ele, conclamando os cristãos a se perguntarem o que têm feito na prática para transformar tal situação.

A Igreja organiza a Romaria e o Grito há mais de uma década. Ontem as duas manifestações tiveram um número de participantes menor que o previsto (os organizadores esperavam 25 mil) e eles mostraram menos entusiasmo que nos anos anteriores. Isso pode ser atribuído em parte à profunda crise pela qual passa o Partido dos Trabalhadores, ao qual as CEBs estão intimamente ligadas. No ato diante da basílica, apareceu apenas uma tímida bandeira petista. Na multidão, nenhum rosto conhecido de político do PT.

Quase um terço dos participantes era de cidades da Baixada Fluminense. Pessoas simples, arregimentadas nas paróquias de periferias e que, na maioria dos casos, ainda confiam no presidente da República. Entre as dezenas de faixas exibidas no pátio, era possível ler ataques ao mensalão, aos políticos corruptos, mas nada que atacasse diretamente Luiz Inácio Lula da Silva ou pedisse seu afastamento.

A pensionista Laurita Freitas, de 62 anos, coordenadora de um grupo de romeiros vindos da Paróquia Santa Rita de Cássia, em Nova Iguaçu, dizia: "Nem tenho palavras para explicar o que sinto diante dessas notícias de roubalheira." Indagada se incluía Lula na lista dos que lhe causam indignação, foi pronta: "Ainda acredito nele. Se for candidato, voto nele outra vez."

Um dos principais organizadores do evento, Luiz Bassegio, evitou comentários sobre Lula: "O que todos os movimentos sociais estão dizendo é que esse sistema de representação política baseado nos partidos não serve mais."