Título: Para FHC, crise afeta credibilidade do País
Autor: Odail Figueiredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Nacional, p. A6

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a atual crise política está sendo conduzida com incompetência. "É uma pena o que aconteceu com o PT e o governo. É uma pena para o Brasil, porque afetou a credibilidade mais geral, não só neles", disse Fernando Henrique, em Lisboa, onde participa de um congresso em comemoração aos 20 anos da Associação Portuguesa de Sociologia. "Lamento também que o presidente Lula não tenha conseguido organizar uma saída dessa situação de maneira mais adequada." Fernando Henrique ressaltou que seria muito ruim se o simbolismo da ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência "fosse destruído pela incompetência de liderança". E salientou que Lula simboliza a própria conduta democrática: "Veio de uma condição humilde, foi operário, decidiu fazer um partido e fez, competiu várias vezes, ganhou a Presidência, então tem um aspecto simbólico na trajetória dele."

Para Fernando Henrique, o escândalo de corrupção não terminará em pizza. "É preciso que haja um grande esforço do conjunto das pessoas, não só dos políticos, mas da própria sociedade, no sentido de recuperação da virtude. É uma palavra que ficou um tanto batida, nos últimos tempos, mas é uma visão republicana", prosseguiu. "Estado é uma coisa, vida privada é outra", disse o ex-presidente da República.

Tendo chegado ontem à capital portuguesa, Fernando Henrique não quis comentar o caso do restaurante da Câmara, que envolve o presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). "Não estava lá, não vi isso. Acho que o pessoal do meu partido tem exposto o nosso pensamento. Mas acho que não é só questão da Câmara. O Brasil chegou a um ponto em que o importante é recuperar a credibilidade. Isso tem de ser apurado."

FHC concorda que o sistema político deve ser revisto, mas alega que isso não é justificativa para o mensalão. Ele listou os problemas: "Há problema no sistema de voto. O eleitor nem sabe em quem votou e há uma proliferação de partidos, que também não correspondem às diferenças de opinião. Há também falta de programas."