Título: CPI dos Correios vai ouvir cúpula do Banco Rural
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Nacional, p. A8

A CPI dos Correios vai tomar o depoimento, na próxima semana, da cúpula do Banco Rural e pedirá explicações sobre o envolvimento da instituição no esquema montado pelo empresário Marcos Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para financiar partidos e políticos. Existem pelo menos quatro linhas de investigação que relacionam o banco mineiro com o escândalo: os empréstimos bancários em nome do PT; o sistema de saques milionários, em dinheiro, nas agências do Rural; as aplicações financeiras realizadas pelos fundos de pensão das empresas estatais; e as remessas de dinheiro ao exterior por meio de uma offshore das ilhas Cayman, a Trade Link, que é um dos braços "informais" do banco em paraísos fiscais. Cerca de um terço dos R$ 10 milhões repassados à conta do publicitário Duda Mendonça nas Bahamas, a título de pagamento de dívidas de campanha de 2002, partiu da Trade Link. A offshore foi criada na década de 80 pelo fundador do Rural, Sabino Corrêa Rabello, e seu sobrinho, Guilherme Rocha Rabello.

Além da presidente do Rural, Kátia Rabello, filha de Sabino Rabello, já falecido, mais dois dirigentes da instituição serão ouvidos pelos parlamentares. "Queremos saber como é que o banco deu empréstimos a Marcos Valério, destinados ao PT, com garantias tão frágeis", afirma o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

Os empréstimos somam cerca de R$ 55,8 milhões, mesmo valor que, segundo Marcos Valério, foi repassado a políticos e partidos aliados do PT. Para os parlamentares da CPI, entretanto, a versão de que o dinheiro distribuído teve como origem primária esses empréstimos é bastante frágil. Um indício é que os empréstimos foram sistematicamente renovados nos últimos dois anos.

Uma suspeita é de que o Rural, assim como o BMG, teria concedido os empréstimos em retribuição pelas aplicações financeiras que recebeu dos fundos de pensão, particularmente a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil. Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil e ex-presidente do conselho deliberativo da Previ, é um dos beneficiados pelo dinheiro de Valério. Até agora, a CPI só conseguiu identificar R$ 32,5 milhões dos R$ 55,8 milhões que o empresário mineiro diz que repassou ao PT.

DEPOIMENTOS

Embora as datas ainda não estejam confirmadas, a CPI dos Correios deve tomar o depoimento do secretário de Gestão Estratégica e Luiz Gushiken na terça-feira e do banqueiro Daniel Dantas na quarta.