Título: Alimentação saudável ganha prioridade no cardápio escolar
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Vida&, p. A16

Alarmadas com os índices de obesidade crescentes no País e com a oferta sedutora de alimentos nada saudáveis, as escolas agora ensinam as crianças a comer direito. Restringir produtos na cantina ou no refeitório e até devolver aos pais lancheiras com guloseimas têm se tornado práticas comuns nas instituições particulares da capital. Em alguns Estados e municípios, decretos recentes valorizam uma alimentação adequada em escolas públicas. Nos Estados Unidos, foi a indústria que se posicionou no fim do mês passado: Coca-Cola e Pepsi anunciaram que não mais venderão refrigerantes nas escolas de ensino fundamental americanas. Uma das vantagens de incentivar a alimentação saudável no espaço escolar é que lá as crianças estão em grupos e - como se sabe - costumam imitar umas às outras. "Se um aluno traz pepino na lancheira, o outro quer trazer também", conta a coordenadora pedagógica da Escola Stance Dual, no centro da capital, Liliane Gomes.

Por isso, as primeiras lições são para os pais. As escolas passaram a promover palestras com nutricionistas, dentistas, médicos e informes com sugestões de lanches. A Stance Dual manda bilhetes advertindo os pais que insistem em enviar comidas gordurosas para o recreio dos filhos. A diretora do Colégio Pentágono, Maria Eduarda Sawaya, vai ainda mais longe: "Se a criança chega com bolacha recheada e refrigerante, a lancheira volta para casa e ela recebe um lanche saudável da escola".

Recentemente, a escola lançou o projeto Pentágono Saudável e vem negociando com cantineiros e alunos para mudar a oferta de alimentos. Como as cantinas são terceirizadas, conseguiu proibir a venda de cachorro-quente, pipoca, balas e grandes barras de chocolate. O refrigerante continua a ser oferecido, mas ficou 20% mais caro. Entre os produtos obrigatórios - e mais baratos - estão salada de frutas, cereais, queijos e combinados com sanduíche e suco naturais.

"Não é tão gostoso quanto as coisas que eu comia, mas é bom também", diz Luiza Cortori, de 15 anos, que resolveu parar de tomar uma lata de refrigerante por dia e comer salgados no intervalo, depois do projeto do Pentágono. "Eu estava engordando." Nutricionistas e educadores concordam que é mais fácil melhorar os hábitos alimentares de adolescentes, principalmente as meninas, por causa da preocupação estética.

No entanto, pesquisas divulgadas pelo IBGE no fim de 2004, mostram que a proporção de obesos no Brasil passou de 5,3%, nos anos 70, para os agora 11% da população. São 10 milhões de pessoas com a doença e um total de 38 milhões acima do peso.

Outro estudo do Instituto LatinPanel, do grupo Ibope, mostra que 35% das crianças brasileiras entre 7 e 12 anos apresentam sobrepeso. E o diagnóstico de uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) indica que 14% dos estudantes de escolas públicas são obesos.

PROIBIR OU NÃO PROIBIR

"Nada é proibido, o perigo são os excessos", diz a nutricionista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Daniela Silveira. Ela diz que não vê problemas em permitir que a criança leve uma vez por semana bolachas - desde que só três unidades e não um pacote - ou um salgadinho industrializado. Mas, nos outros dias, ela recomenda pães com poucos frios, sucos naturais e muita fruta (ver quadro).

Em São Paulo, uma portaria de março explicita alimentos que devem ser oferecidos pelas cantinas de escolas estaduais, mantidas pelas Associações de Pais e Mestres. São frutas, salgados assados, barras de cereais, arroz integral, sucos naturais e barras de chocolate com menos de 30 gramas. E proíbe produtos "que podem ocasionar obesidade e problemas de saúde causados por hábitos incorretos de alimentação", mas não dá detalhes.

Nas cantinas de escolas municipais do Rio não se pode vender chicletes, doces, alimentos ricos em colesterol. Mas a vanguarda fica com Santa Catarina, que proíbe, desde 2001, refrigerantes, salgadinhos e guloseimas em escolas públicas e particulares.

No exterior, a França também não permite mais máquinas com produtos industrializados e refrigerantes. Alguns Estados americanos tomaram a mesma decisão. Em agosto, os dois gigantes Coca-Cola e Pepsi prometeram não mais vender refrigerantes nas escolas do país, mas só no ensino fundamental e durante os horários de aula. A bebida continua liberada para os adolescentes do ensino médio.

"Minhas filhas aprenderam a comer fruta com casca na escola", conta a psicóloga Juliana Pagano, mãe de duas alunas da Escola Viva, na Vila Olímpia. Nos seus 32 anos de história, nunca houve refrigerantes ou frituras na cantina ou no refeitório. Juliana diz que essa política foi decisiva quando teve de escolher a escola das meninas. "Não dá mais para deixar só na mão da família, as crianças passam aqui grande parte do seu tempo", diz a nutricionista da Viva, Laura Furtado.