Título: Dono de restaurante promete provar que pagou propinas
Autor: Rosa Costa e Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O empresário Sebastião Augusto Buani, proprietário da empresa que administra o restaurante da Câmara, prometeu apresentar pelo menos uma testemunha e documentos para comprovar que foi obrigado a pagar propinas ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Buani negou ainda que tenha feito qualquer pressão sobre Severino para manter a concessão do restaurante: "Eu nunca fiz chantagem, nunca fiz ameaça e nunca falei em dinheiro." Buani teria pago a Severino uma espécie de mensalinho, desembolsando R$ 10 mil por mês. Os advogados do empresário vão tentar provar que Buani foi coagido por Severino - a quem atribuirão o crime de concussão, que é a extorsão praticada por funcionário público. "Buani sofreu concussão. Severino o forçou a pagar o dinheiro", afirmou um dos advogados contratados pelo empresário, Sebastião Coelho da Silva.

Buani disse ao Estado que neste ano procurou Severino em três ocasiões para discutir a dívida que sua empresa tem com a Câmara. "Em março, essa divida girava em torno de R$ 30 mil, já que a Câmara me cobrava uma taxa de R$ 2 mil de água e energia e mais R$ 11.580 de arrendamento. Eu não dei conta de arcar com esses compromissos e recorri para que o presidente pudesse me ajudar no parcelamento", contou.

Severino teria sugerido para que ele apresentasse a proposta de parcelamento por escrito. Buani seguiu a orientação e redigiu a proposta. Depois procurou Severino em outros dois momentos, quando pediu informações sobre o pedido de parcelamento. "Nessas vezes em que eu o procurei dentro do gabinete da presidência, na frente de quase todos os seus assessores, eu perguntei: 'Presidente, o sr. tem alguma posição para mim?' Ele chamou a chefe de gabinete e perguntou como estava andando meu negócio. Mas ele acabou não resolvendo. Esses foram os meus contatos", afirmou.

O último contato ocorreu há 20 dias, quando a dívida já tinha crescido de R$ 30 mil para R$ 100 mil. Buani, então, procurou o Departamento Jurídico da Câmara. "Aí veio a pior notícia", contou o empresário. "Não tinha saída: ou eu pagava ou estava fora. O meu contrato é de um ano com direito a três prorrogações e vence no dia 14 próximo. Eu acertei que a Câmara me daria um desconto de R$ 30 mil e eu pagaria o restante até segunda-feira. Isso é o que está acertado no Departamento Jurídico. Só que nesse ínterim, um funcionário da minha empresa fez essas denúncias."

Indagado sobre provas capazes de sustentar sua acusação, Buani reagiu: "Que a Polícia Federal investigue. Em relação ao que aconteceu entre Sebastião Buani e Severino Cavalcanti, eu quero falar na Justiça. Agora eu quero dizer que não sou chantagista, não sou propineiro e que ele não devia ter dito o que disse a meu respeito."

Buani lembrou os tempos em que Severino ocupava a Primeira-Secretaria da Câmara e era muito mais fácil falar com ele. "Ao presidente Severino Cavalcanti quase eu não tinha acesso. Quase não conseguia falar com ele. Eu o via em plenário e de longe. Já o primeiro-secretário era mais fácil. A aproximação com ele era mais fácil. A concessão do meu restaurante diz respeito ao primeiro-secretário", disse.