Título: Citi reagiu à pressão do governo contra Dantas
Autor: Eugênia LopesLuciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Nacional, p. A7

RIO - O Citigroup reagiu à pressão do Banco do Brasil para que o Opportunity saísse da gestão dos dois fundos que controlam a Brasil Telecom e a Telemig Celular, entre outras empresas. Isso aconteceu antes que o Citi se desentendesse com o Opportunity e mudasse de lado, fechando um polêmico acordo com os fundos de pensão de estatais, capitaneados pela Previ (BB), Funcef (Caixa Econômica) e Petros (Petrobrás). Pelo acordo, os fundos comprometem-se a pagar R$ 1 bilhão pela parte do Citi na Brasil Telecom até 2007, caso ambas as partes não vendam antes suas participações, de forma conjunta. Em carta endereçada a Cássio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil, em 19 de maio de 2003, Mary Lynn Putney, diretora gerente do Citigroup Global Investments, diz que Daniel Dantas, dono do Opportunity, comunicou ao banco norte-americano que Casseb, "em nome dos fundos de pensão das estatais, comunicou-nos o seu interesse em renegociar (...) o acordo de acionistas que organiza o controle das empresas nas quais estes fundos (as fundações) investem junto conosco".

Em seguida, a executiva revelou ter confiança de que "seremos capazes de alcançar um acordo que o tranqüilize em relação a suas preocupações", mas alerta sobre "os constrangimentos muito importantes" ao qual o banco está submetido "nestas conversações". Na carta, cuja cópia foi obtida pelo Estado, o Citi diz que a estrutura dos dois fundos, que dava ao Opportunity a gestão das empresas, era uma "precondição explícita e essencial para a nossa aprovação deste investimento". A carta é mais uma evidência de que o governo do PT atuou firmemente para defender a posição das fundações na briga para remover o Opportunity do controle daquele conjunto de empresas.

Ontem, reportagem da Folha de S. Paulo mostrou e-mails enviados em maio por Dantas a Mary Putney, narrando as pressões de Casseb e do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu para que o Opportunity desfizesse os acordos que lhe davam o controle sobre a Brasil Telecom.

Nas mensagens eletrônicas, Dantas afirma que Dirceu teria indicado Casseb como responsável no governo por negociar a questão, e que o ex-ministro chefe da Casa Civil temia que as fundações fossem prejudicadas pelo Opportunity.

A diferença básica entre as versões de Dirceu e de Dantas é sobre quem teve a iniciativa de trazer o assunto da Brasil Telecom à mesa. Fontes próximas ao dono do Opportunity dizem que ele foi procurado por Dirceu, com quem se encontrou três vezes. O ex-ministro, de forma muito educada, expôs a posição do governo, favorável às fundações, e instou Dantas a desistir da sua briga para se manter na gestão dos dois fundos e, portanto, das empresas. Na última reunião, a posição de Dirceu já teria se abrandado, possivelmente por contatos com o Citi, que na época ainda ladeava com o Opportunity. O contato de Dantas com Casseb teve o mesmo teor, narram aquelas fontes.

Pela parte de Dirceu, a versão é de que Dantas teria procurado o ex-ministro para defender sua posição na briga com as fundações e teria sido encaminhado à Previ, a Casseb (que presidia o patrocinador da Previ). O presidente da Previ, Sérgio Rosa, desqualificou os e-mails como prova de atuação irregular dos fundos.