Título: CPI concentrará investigações no IRB e nos fundos
Autor: Eugênia LopesLuciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - A CPI dos Correios vai criar amanhã duas sub-relatorias - a dos fundos de pensão e a do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) - para poder aprofundar as investigações. Segundo o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a comissão começa, nesta semana, a se concentrar na análise técnica do superfaturamento de contratos dos Correios e nas movimentações financeiras do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, além dos investimentos temerários dos fundos de pensão para beneficiar o PT e no tráfico de influência no IRB. A sub-relatoria dos fundos de pensão será coordenada pelo deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), enquanto a do IRB ficará com o deputado Carlos William (PMDB-MG), que passará a integrar a CPI, no lugar de Fernando Diniz (PMDB-MG).

Não haverá depoimentos nesta semana. Um dos mais esperados, do ex-ministro e atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência, Luiz Gushiken, marcado para amanhã, foi suspenso e deverá acontecer só na próxima terça. No dia 14, deverá depor o banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity. Os dois depoimentos são considerados importantes para ajudar a elucidar o papel dos fundos de pensão de estatais no esquema de transferência de dinheiro do PT para políticos. Há suspeita de que os fundos tenham feito investimentos altos demais no Banco Rural e BMG que, em troca, concederam empréstimos indiretos ao PT, mesmo sabendo que as dívidas não seriam honradas.

Segundo ACM Neto, esta semana será dedicada a analisar os documentos que vão detalhar os investimentos dos fundos de pensão de estatais nos dois bancos. "Queremos ver se os fundos tiveram prejuízo, se investiram além do normal", disse o deputado. Os investimentos imobiliários e as aquisições de títulos públicos pós-fixados também começarão a ser investigados. Gushiken é apontado como um dos mais influentes ministros do governo Lula nos fundos e fez indicações para as diretorias de vários. Sua influência teria causado uma desavença com outro ex-ministro, José Dirceu (PT-SP), agora de volta à Câmara. Daniel Dantas seria um aliado de Dirceu no embate com alguns fundos, segundo ACM Neto.

A sub-relatoria de contratos já está a cargo do deputado petista José Eduardo Cardozo (SP) e a de movimentação financeira, que também investiga a quebra de sigilo telefônico, é de responsabilidade do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Fruet encaminhará à Polícia Federal documentos enviados por mais de 40 companhias telefônicas, com 1 milhão de ligações, para que sejam identificados os assinantes das linhas telefônicas. "As empresas não têm ligação entre elas. Em alguns documentos só temos o número, sem saber quem é o assinante."

A investigação no IRB vai buscar provas de que, entre outras irregularidades, o empresário Henrique Brandão, dono da corretora Assurê e amigo de longa data do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), tivesse preferência nos contratos milionários do instituto com estatais como Furnas e Eletronuclear. O deputado Carlos William disse que já recebeu uma série de denúncias de funcionários ou ex-funcionários do IRB e organizará um grupo para investigar cada uma. Ele acredita que deverão ser convocados alguns envolvidos, como Brandão e ex-dirigentes, para depoimentos.