Título: Inédito: EUA pedem ajuda à Europa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Internacional, p. A11

BRUXELAS - Numa decisão inédita para a potência mais rica do planeta, os Estados Unidos pediram ontem ajuda de emergência para as vítimas do furacão Katrina à União Européia (UE) e à Organização do Tratado do Atlântico Norte e aceitaram oferta de apoio das Nações Unidas. Pouco antes, o secretário de Saúde e Assistência Social americano, Michael Leavitt, estimava, pela primeira vez, em milhares o total de mortos em Nova Orleans e outras áreas atingidas pelas inundações. "Não dispomos de números exatos, mas é claro que se eleva a milhares", disse ele à rede de TV CNN.

Segundo a porta-voz da Comissão Européia, Washington pediu equipes de primeiros socorros, roupas, mantas, água mineral e 500 mil refeições enlatadas. "Estamos preparados para contribuir com os esforços dos americanos para aliviar a crise humanitária em New Orleans", ressaltou o comissário de meio ambiente da CE, Stavros Dimas.

O pedido ocorreu depois de vários dias de contatos informais e atividades preparatórias entre a UE e os EUA, acrescentou a porta-voz da CE, Barbara Helfferich. "Se a solicitação tivesse chegado antes, teria sido melhor", ponderou ela. "Até este momento, não havíamos recebido nenhum sinal positivo do governo americano", insistiu a porta-voz da CE.

Por sua vez, a Otan informou que recebeu pedidos para o fornecimento de comida, medicamentos e apoio logístico. "Eles querem cadeiras de roda, barracas e geradores de energia", ressaltou Carmen Romero, porta-voz da Otan. Ela esclareceu que os EUA não pediram tropas à aliança atlântica, apenas ajuda humanitária. "Vamos atender às solicitações o mais rápido possível", disse.

A UE também está disposta a colaborar para reduzir os problemas energéticos, enviando petroleiros aos portos americanos como parte do plano da Agência Internacional de Energia de enviar 30 milhões de barris de petróleo e gasolina a partir de outubro. Essa tarefa ficaria a cargo da Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha e França.

A porta-voz da Comissão Européia, Barbara Helfferich, adiantou que as provisões solicitadas começariam a ser enviadas às regiões atingidas pelas inundações a partir da noite desta segunda-feira.

O governo americano aceitou também apoio oferecido pelo secretário-geram da Nações Unidas. Kofi Annan. Essa ajuda será coordenada pelo Centro de Operações de Ajuda a Vítimas de Furacões

Segundo o secretário de Segurança Interna americano, Michael Chertoff, o governo federal já tem pleno controle da situação em New Orleans.

Em entrevista à Fox, Chertoff, ao contrário de seu colega do Secretaria de Saúde, negou-se a dar uma estimativa sobre o número de mortos. Mas admitiu: "Vamos encontrar muitas pessoas que morreram quando se refugiaram em suas casas que foram invadidas pelas águas. Temos de preparar o país para essa realidade. Será algo aterrador."

O governo vem recebendo duras críticas pela forma lenta e ineficaz com que enfrentou a crise. Vários dias se passaram antes da chegada de alimentos e água potável a milhares de pessoas alojadas no estádio Superdome. Um dos críticos mais contumazes é o prefeito de New Orleans, Ray Nagin. Ele classificou a demora de trágica.

Chertoff insistiu em que o governo federal detém o controle da situação, mas ressalvou: "Estamos no meio de uma emergência. Este não é um momento em que possamos dar um suspiro de alívio." Ele rechaçou rumores segundo os quais o enviou de soldados da Guarda Nacional ao Iraque reduziu as possibilidades de enfrentar a crise.