Título: População luta para salvar acervos
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Internacional, p. A12

NEW ORLEANS - O furacão e as inundações que se seguiram cobraram um preço das riquezas culturais de New Orleans e das cidades no seu entorno. Diretores de museus ainda estavam tentando formar um quadro claro da extensão das perdas, mas algumas coleções parecem ter sido poupadas, entre elas o acervo principal do Museu de Arte de New Orleans, um dos mais importantes da região Sudeste.

O Hogan Jazz Archive da Universidade de Tulane, que tem a maior coleção de história oral do jazz, parece estar salvo, segundo seu curador, Bruce Raeburn. O Preservation Hall, edifício de 255 anos do Bairro Francês que serve como um santuário e local de apresentações de jazz não parece ter sido danificado. Contudo, o teto do Old U.S. Mint no Bairro Francês foi danificado, causando preocupações sobre o estado de sua coleção de jazz, que inclui instrumentos musicais, filmes, pôsteres e fotografias.

Sete membros do staff do Museu de Arte de New Orleans, incluindo guardas de segurança e engenheiros, permaneceram no local na terça-feira para proteger a coleção e presumivelmente ficaram ali durante toda a semana, segundo o diretor da instituição, E. John Bullard.

O jornal Times-Picayune noticiou que cerca de 30 parentes do pessoal do museu tinham buscado refúgio no edifício que fica num ponto elevado à beira do Parque da Cidade. Ele informou que os membros do staff se recusaram a deixar o prédio abandonado, apesar dos apelos dos funcionários da Agência Federal de Administração de Emergência, que ali chegaram na quarta-feira. "Os que ficaram são verdadeiros heróis para o museu", comentou Bullard.

O museu, que tem cerca de 40 mil objetos em sua coleção, possui um conjunto famoso de obras de Miró e outras pinturas, 16 mil peças de vidro, e um grande acervo fotográfico. Ele possui também uma importante coleção africana da qual cem das melhores peças estão atualmente sendo exibidas em outros pontos do país.

Bullard, que é diretor do museu desde 1973, temia pelas 55 esculturas espalhadas no jardim, criado há 200 anos, incluindo peças de Henry Moore, Louise Bourgeois e Claes Oldenburg.

O Times-Picayune informou que uma escultura de 15 metros de altura formada por um tubo de aço e cabos avaliada em mais de U$ 500 mil foi esmagada.

Só havia combustível suficiente para os geradores de emergência que operam as bombas de sucção de água e os sistemas de controle climático para durar até o meio da semana passada. Se a água invadir e as bombas falharem, isso poderá colocar em risco milhares de fotos e gravuras.

As peças de vidro seriam menos prejudicadas.

Bullard informou que as seguradoras do museu enviaram guardas de segurança privados da Flórida para proteger as obras e procurar combustível para manter os geradores funcionando. A próxima tarefa será transportar obras importantes para fora da cidade quando as estradas estiverem transitáveis.

A inoperância dos sistemas de controle climático em outros museus sobreviventes representa um risco, disse Ed Able, presidente da Associação Americana de Museus em Washington. Able disse que há 126 instituições - museus de arte, edifícios históricos, zoológicos, aquários e outros - dentro da zona afetada.

Temia-se também pelo destino das dezenas de casas de valor histórico, muitas das quais foram destruídas pelo desastre. Beauvoir, a casa de Jefferson Davis em Biloxi, Mississippi, sofreu danos sérios, disse Able. Concluída em 1851, ela continha a biblioteca presidencial de Davis e outras exposições. A mansão histórica Dantzler House, em Biloxi, foi destruída. O Museu de Arte Ohr-O'Keefe parcialmente construído, um complexo de quatro edifícios projetado por Frank Gehry, também em Biloxi, foi seriamente danificado quando um cassino flutuante foi depositado em seu meio pelo furacão.