Título: Investimento cresce o dobro do PIB em um ano
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

RIO - Os investimentos na economia brasileira cresceram 8,6% nos 12 meses terminados em junho, o dobro do crescimento do PIB no período. Para a maior parte dos economistas, não há dúvida de que os investimentos estão em recuperação, apesar das reclamações quanto aos juros elevados e o câmbio sobrevalorizado, e do temor de uma contaminação da economia pela crise política. "Estamos prudentemente otimistas", diz Miguel Sampol, diretor geral da Klabin, fabricante de papel, com faturamento bruto de US$ 1,3 bilhão e 17 fábricas (uma na Argentina). Sampol explica que, no momento, fatores objetivos como o real valorizado e os juros altos estão afetando os negócios da Klabin. O câmbio, em particular, pode até afetar uma decisão de investimento de US$ 500 milhões. Olhando para a frente, porém, o que a empresa vê é um País com exportações crescentes, baixo endividamento externo e inflação em queda, sinais de que a economia vai entrar num ciclo virtuoso. "Estamos de cabeça alta", resume o executivo.

Antonio Corrêa de Lacerda, diretor de Economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), diz que "claramente está havendo uma recuperação do investimento". Ele lembra que os investimentos atingiram o ponto mais baixo nos anos recentes em 2003, quando bateram em 18% do PIB. Em 2004, o indicador atingiu 19,6% e, neste ano, Lacerda prevê que pode chegar a 21%. Ele nota que é está aquém de 25%, o nível adequado para que o Brasil cresça no ritmo médio dos emergentes. "Nosso câmbio é muito ruim para o setor produtivo", diz Lacerda.

Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, diz perceber "um certo otimismo envergonhado, inconfessável, das empresas com o seu próprio negócio". Para ele, "é como se fosse politicamente incorreto exibir publicamente o otimismo que sentem neste momento em meio à crise em curso, evitando passar um sinal de que está tudo perfeito no País".

Ele observa que as empresas grandes e as médias de maior porte estão capitalizadas, com boa liquidez, e tocando seus investimentos com razoável entusiasmo, mesmo no setor exportador, o mais atingido pela alta do real. "As raras exceções estão em setores mais sensíveis à China, ao câmbio ou em segmentos muito específicos do agronegócio" , acrescenta Barros.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e social (BNDES), por sua vez, está batendo recordes nas liberações e vai lançar nove novos fundos de investimentos em empresas.